Career Insights

Na maioria das vezes em que ouvimos ou discutimos o perfil “ideal” do(a) profissional de Finanças, a conversa envereda pelos meandros técnicos da nossa formação: o conhecimento do CPC “X”, a modelagem para avaliação de retorno de importantes projetos de investimentos e por aí vai. Alternativamente, debate-se sobre a capacidade de ser duro(a) o suficiente para questionar, provocar e preservar as boas práticas financeiras nos negócios de maneira eficaz, protegendo os interesses e patrimônio dos acionistas. Tudo isso é fundamental, porém, não é tudo! Mais do que nunca, o “como” assume um protagonismo cada vez mais relevante no sucesso a longo prazo de um(a) profissional de Finanças. Afinal, atrás daquela HP 12C ou HP10BII (meu caso, pois nunca conseguir me relacionar com o modo RPN), existe uma pessoa, existe um coração.

Em certa ocasião, ao participar de um processo de recrutamento de uma grande empresa multinacional, ouvi de um CEO que eu não poderia assumir como CFO porque eu era “gente boa demais”. Não era a primeira vez que esta questão aparecia, seja em processos, seja em inúmeros feedbacks recebidos. A insatisfação era sempre que eu “entendia” demais os desafios dos meus pares, não “batia” o suficiente e não era impositivo como um CFO deveria ser. Confesso que, por muito tempo, achei que realmente o problema era meu e que, de alguma forma, havia escolhido a profissão errada. Por outro lado, continuava evoluindo, crescendo, assumindo novos projetos e desafios, entregando resultados e sendo promovido. Na minha cabeça, algo simplesmente não reconciliava, usando nosso jargão contábil.

Mergulhei em várias jornadas de autoconhecimento: conversei com muita gente em Finanças e de outras funções, fiz coaching, mentoring e terapia. Busquei o sagrado masculino e outras abordagens, acompanhado de minha esposa, que sempre foi uma referência na minha carreira. Aprendi muito sobre mim … E gostei do que vi!

Foram vários insights que pretendo dividir com vocês ao longo do tempo. Por ora, destaco os seguintes:

• O mundo corporativo confunde confronto com conflito – o confronto busca a comparação, cotejamento de ideias de maneira não violenta, procurando conjuntamente a melhor solução para a empresa, mesmo que signifique que uma ou ambas as partes reformem seus entendimentos originais. O conflito remete à luta, à ausência de entendimento e à oposição de interesses. Quantas vezes vi minha disposição de buscar o confronto aberto e evitar o conflito ser percebida como um sinal de fraqueza. Ou seja, entendi a parcela que me cabia no feedback: minha procura era por assertividade sem omissão, mas nunca agressividade. Essa busca é algo que se renova a cada dia para mim.

• O(A) profissional de Finanças é fundamentalmente um parceiro de negócios que direciona, orienta, encontra os caminhos certos, questiona de maneira contributiva e provê insights a nossos pares na organização. Independentemente do nível hierárquico em que se esteja, todos (as) profissionais de Finanças têm ao menos um cliente a ser servido. Ainda como um “pica-pau” da Arthur Andersen, no início dos anos 90, ouvia o mantra de ser o “trusted business partner” (parceiro de negócios de confiança – tradução livre) de nossos clientes. Isso nunca saiu da minha cabeça. É assim que vejo o propósito do(a) profissional de Finanças: sempre buscando a excelência, a tempestividade do serviço prestado, com postura profissional e executiva, e conquistando a confiança de nossos parceiros. Para mim, não há melhor reconhecimento que ser voluntariamente convidado a participar de uma tomada de decisão importante ou participar de um projeto de negócio. Não por obrigação, mas porque o nosso cliente interno enxerga o valor que podemos aportar. Paraíso!

• Nossa profissão lida com assuntos densos e difíceis. Não conseguimos determinar ou controlar a gravidade do que entra em nossas agendas. Mas, podemos determinar a forma como lidaremos com eles e, principalmente, com as pessoas que nos cercam. Muitas vezes, focamos tanto nas questões técnicas e nas “crises” enfrentadas a ponto de negligenciarmos o “legado relacional” que deixaremos nas memórias das pessoas que passam pelas nossas vidas. Quantas vezes entrei em disputas tão viscerais para, depois de anos, encontrar aquele(a) interlocutor(a) ainda com uma mágoa mal resolvida e, então, refletir: “aquilo parecia tão importante na época, mas agora – colocando em perspectiva – é tão irrelevante”. Ou seja, por vaidade de ceder à pressão de outros, queimei um relacionamento que poderia ser muito construtivo.

• O(A) líder de Finanças tem o poder de trazer “leveza” ao ambiente corporativo sem perder a seriedade ou a respeitabilidade. Criar um ambiente inclusivo, emocionalmente seguro, onde a equipe prospere, tenha oportunidade de se expressar, opinar, arriscar, inovar e ousar, sempre evoluindo e desenvolvendo a plenitude do potencial de cada um. Existe missão melhor que essa?

Poderia continuar a escrever páginas e páginas. E o farei em breve por aqui. Ofereço, por fim, um pensamento que me tocou profundamente, expresso pela Jacinta Ardern, Primeira-Ministra da Nova Zelândia: “Uma das críticas que sempre enfrentei ao longo dos anos é de não ser agressiva ou assertiva o suficiente ou, de alguma forma, que minha empatia era um sinal de fraqueza. Me revolto contra essas afirmações e me recuso a acreditar que alguém não possa ser ao mesmo tempo altruísta e forte!”

Busque o seu estilo! Seja você mesmo!

 

Arthur Azevedo

Finance Career Mentor

Arthur Azevedo tem 34 anos de experiência na área de Finanças, tendo ocupado posições de liderança e gestão de pessoas nos últimos 27 e atuado como CFO por 11 anos. Trabalhou em várias localidades, incluindo Brasil, Estados Unidos e Europa. Atuou como CFO Global da Embraco, CFO Latam da Whirlpool Corporation e CFO Brasil da Transpetro, Cacau Show, Brasil Brokers e Tecumseh. É formado em Administração de Empresas pela Fundação Mineira de Educação e Cultura, com MBA pela Business School São Paulo com certificado como conselheiro pelo INSEAD (França e Singapura) e IBGC. É fundador da Arthur Azevedo Consultoria de Gestão & Mentoria. É casado, pai de dois filhos e apaixonado por corridas de rua.