Career Insights

De Marcus Albernaz, CFO e Diretor de Relações com Investidores da Vero Internet

Entre os projetos ad hoc mais cruciais para o desenvolvimento de carreira na área financeira, a participação em transações de compra e venda de empresas, conhecidas como M&A (Mergers and Acquisitions ou Fusões e Aquisições), desempenha um papel central na formação do profissional de Finanças. Essas operações ampliam o escopo de trabalho day to day, possibilitando o aperfeiçoamento de habilidades estratégicas e uma visão holística do negócio.

O universo das fusões e aquisições envolve inúmeras complexidades e desafios, que surgem desde o período pré-transação até a fase posterior. Durante todo esse processo, questões estratégicas, financeiras, operacionais, regulatórias e culturais precisam ser cuidadosamente gerenciadas e avaliadas.

Ao longo de anos liderando a área financeira de empresas nacionais e multinacionais e participando de diversas transações de M&A, da concepção à realização, tenho observado um consenso bastante claro: o sucesso dessas operações estratégicas frequentemente depende mais da execução da integração pós-transação do que da negociação em si.

Ou seja, negligenciar os processos que precisam ser desenvolvidos pós-M&A pode ser considerado o mesmo que “nadar, nadar e morrer na praia”. Toda fusão e aquisição de empresas exige procedimentos dinâmicos e contínuos, que vão além do momento de assinatura do contrato que formaliza a negociação. Afinal de contas, nesse processo, não apenas a manutenção dos sistemas operacionais e financeiros está em jogo, mas também a cultura e o corpo de pessoas das companhias — bem como seus escopos, salários e qualidade de vida no trabalho.

Dessa forma, para que o M&A seja bem-sucedido e todos os sistemas organizacionais das empresas envolvidas concluam o processo de forma saudável, é fundamental que o pós, a etapa que integra o que foi negociado, seja cuidadosamente executado. Isso porque a integração é um processo complexo que requer um planejamento assertivo, desprendimento de verdades absolutas, execução precisa e uma abordagem holística das organizações em processo de fusão, além de uma boa dose de empatia entre as partes envolvidas.

Vero: um case a ser seguido

A história da Vero Internet, companhia de telecomunicações brasileira, é um exemplo notável de como M&As, alinhados com um desenvolvimento orgânico, podem impulsionar o crescimento e a geração de valor de uma empresa.

Fundada em 2019, após 17 M&As bem-sucedidos, a Vero saiu de 130 mil assinantes em dezembro de 2019 para quase 1,4 milhão em dezembro de 2024, com presença em 425 cidades de 9 estados brasileiros e um lugar de destaque entre as empresas de telecomunicações do Brasil.

À frente da área financeira da companhia como CFO e Diretor de Relações com Investidores, em dezembro de 2023 pude participar de um novo capítulo da história da Vero: a fusão com a brasileira Americanet, também provedora de serviços de internet e telecomunicações. Esse mais recente projeto exigiu de nós um processo de integração com um plano de ação robusto e organizado de forma meticulosa.

Após o fim da negociação, o nosso trabalho assumiu novas proporções. Não se tratava apenas de garantir que os números estivessem alinhados, mas de unificar dois ecossistemas distintos, com funcionamentos próprios. Agora, era preciso aprender a tomar decisões em conjunto, alinhar as atividades e avançar na mesma direção, compartilhando valores comuns, mas sem perder de vista as histórias, as identidades e os ativos únicos de cada parte envolvida.

Foram meses de dedicação, envolvendo todas as áreas das duas empresas, com reuniões frequentes e muita disciplina de execução. Integramos times, governanças, estruturas, processos e sistemas, definindo uma nova marca, uma metodologia de gestão unificada e um único propósito: liderar a (r)evolução na experiência do cliente, para além da conexão.

Como resultado de um processo de integração bem estruturado, no primeiro ano pós-fusão realizamos quase duas mil atividades e capturamos sinergias que superaram as estimativas iniciais. Unificamos portfólios, lançamos produtos e serviços e aprimoramos as infraestruturas de B2B e B2C, direcionando a nova Vero para resultados promissores de qualidade, experiência do cliente e geração de valor aos acionistas.

Dessa forma, percebemos que a integração pós-M&A é uma arte que combina estratégia, execução e gestão de mudanças. O sucesso depende de um planejamento cuidadoso, uma equipe experiente e dedicada, uma execução diligente por meio de metas e indicadores claros e uma abordagem flexível que se adapte às necessidades específicas de cada transação, principalmente em temas relacionados à gestão de pessoas e mudanças.

Nesse processo, o desenvolvimento de habilidades como capacidade analítica e visão de longo prazo foi essencial para que a liderança da companhia estivesse preparada para avaliar riscos e oportunidades, bem como tomar decisões que maximizassem o valor da empresa após a transação. Em adição, a resiliência também foi crucial para lidar com as incertezas ao longo do caminho. Além disso, a adoção de uma comunicação estruturada, eficaz e transparente também foi chave para alinhar as expectativas dos stakeholders, tanto externos quanto internos, que foram significativamente afetados pela nova dinâmica da organização.

A jornada da Vero e sua fusão com a Americanet reforça que o verdadeiro diferencial em processos de fusão e aquisição está na capacidade de integrar culturas, alinhar propósitos e executar estratégias com precisão. Mais do que números ou sinergias financeiras, como CFO, entendo que o êxito reside em transformar desafios em oportunidades, criando uma organização mais forte e preparada para o futuro.

Para empresas que desejam trilhar esse caminho, o aprendizado é claro: a integração não é apenas um passo no processo, mas sim o ponto crucial da transformação bem-sucedida. Com planejamento estratégico, equipes engajadas e uma visão clara do impacto a ser gerado, é possível não apenas unir empresas, mas construir um legado de inovação e crescimento sustentável.