Para trilhar trajetórias valorosas, é preciso dispor de planejamento, dedicação, foco e perseverança. Pautar o trajeto, manter a disciplina e visualizar a linha de chegada configuram o cenário ideal para o sucesso. Contudo, é o intermédio entre a celebração das grandes conquistas e as superações dos momentos difíceis que coopera para a construção de carreiras maduras, formando profissionais experientes, prudentes, flexíveis e autoconscientes.
Apesar das incertezas da vida profissional, trabalhar de maneira ativa para o desenvolvimento das habilidades técnicas e comportamentais, assumir riscos de forma diligente, realinhar rotas e, sobretudo, contar com pessoas que caminham lado a lado na jornada são os principais fatores que direcionam a carreiras dos executivos ao sucesso.
Acompanhe os relatos de grandes executivos do mercado brasileiro que compartilharam suas trajetórias e seus maiores aprendizados ao longo da carreira.
Poderia compartilhar um pouco do seu histórico profissional?
Eliane Velo Dominguez: Iniciei minha carreira como auditora externa, um caminho tradicional para muitos profissionais da Contabilidade. Ao longo da minha trajetória, trabalhei em diversos setores, como siderurgia, entretenimento, petróleo e, mais recentemente, no varejo. Nos últimos 20 anos, minha jornada foi profundamente marcada pela minha atuação na Vale, que considero ter sido minha maior escola profissional. Na Vale, participei de diversos projetos de aquisições, reestruturações e iniciativas especiais, além de ter atuado em todas as áreas de Controladoria e Tributário. Hoje, tenho quase 30 anos de experiência nas áreas contábil e financeira e, desde o final de junho de 2024, estou no Grupo Boticário, com grande entusiasmo e vontade de contribuir e aprender dentro desse novo ecossistema.
Guilherme Mageste: Iniciei minha carreira como Analista de Sistemas em uma Instituição de Ensino no interior de Minas Gerais. Após 3 anos, fui aprovado no Programa de Trainee de Auditoria da Terco Grant Thornton (hoje, EY) e, em seguida, migrei para o time de Auditoria da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Foram quase 11 anos nesta companhia — divididos em dois períodos distintos, intercalados por uma breve passagem pelo Grupo Pão de Açúcar — de muita dedicação, aprendizado e foco, que me levaram à posição de diretor de Auditoria, Riscos e Compliance. Depois, tomei a decisão de ir atrás do que me brilha os olhos: o desafio, o novo. Assumi a posição de head de Auditoria Interna na VLI Logística e, desde o início deste ano, atuo como o superintendente de Auditoria, Riscos e Controles Internos do Grupo Equatorial.
Juliana Gavineli: Com 15 anos de experiência, minha trajetória profissional é marcada por diversas conquistas e desafios que moldaram minha expertise e paixão pela área financeira. Iniciei minha carreira em um escritório contábil e, depois de dois anos, migrei como auditora para uma Big Four. Após esse período, aceitei o desafio de integrar a área de Contabilidade da Unidas, onde atuei como protagonista na reestruturação e automação de processos, além de auxiliar na preparação do IPO. Ao longo dos anos, incorporei outras áreas e participei ativamente do processo de combinação de negócios entre Unidas e Localiza, assumindo, mais tarde, a posição de gerente sênior, junto à área de informações ao mercado da Localiza. Em 2024, com objetivos ainda maiores e em um papel estratégico, iniciei uma nova jornada na Mills como controller.
Tatiana G. C. Asti: Ao longo dos últimos 20 anos, desenvolvi minha carreira nas mais diversas áreas de Finanças, especialmente em empresas de bens de consumo. Iniciei minha trajetória na Unilever, com um foco em Finanças para Supply Chain e, posteriormente, migrei para a Natura, onde assumi diversos desafios em Finanças para Marketing, Unidades de Negócio e em Relações com Investidores. Atuei na Danone como business controller, antes de assumir a responsabilidade por todas as áreas de Finanças para o negócio na BDF Nivea, olhando desde Vendas e Revenue Growth Management até Planejamento Estratégico e FP&A. Hoje, atuo como diretora de FP&A Consumer, Growth e Business Corp no Grupo Boticário.
Viktor Moszkowicz: Em 2003, iniciei minha carreira como trainee de Planejamento Estratégico na Vale. Com o apoio da companhia, fiz o MBA na Chicago Booth e, mais tarde, retornei para atuar na área de Relações com Investidores. Em 2014, migrei para Tesouraria e Gestão de Risco Financeiro e, em 2020, assumi a posição de diretor de Participações da empresa, agregando, posteriormente, o escopo da criação do fundo Vale Ventures. Além disso, também atuei nos Conselhos da Samarco, California Steel Industries, MRS e outras empresas. Em 2024, busquei um desafio diferente do que eu havia vivido até então e iniciei um processo transição de carreira para o Grupo Boticário, onde hoje atuo como diretor executivo de Stakeholder Management.
Qual foi o maior acerto da sua carreira?
Eliane Velo Dominguez: Um dos maiores acertos da minha carreira foi construir relações de confiança, aprendizado e colaboração com equipes e colegas. Essas conexões foram fundamentais para adquirir um conhecimento profundo e alcançar fluidez nas áreas em que trabalhei. Em grandes companhias, a cultura e as pessoas desempenham papéis essenciais, e a diversidade é um ativo valioso para o desenvolvimento organizacional, uma vez que atuar em ambientes diversos proporciona um crescimento mais rico e sustentável para todos os profissionais envolvidos.
Guilherme Mageste: Definitivamente, foi ter tomado a decisão de sair de Juiz de Fora e buscar espaço profissional em um grande centro, no caso, São Paulo. Deixar meus pais, irmãos e amigos não foi fácil. Foram algumas noites de choro, agonia, receio, mas sempre estive determinado em seguir em frente e conquistar o meu lugar. E foi em São Paulo que pude me relacionar com excelentes profissionais — aos quais agradeço, de coração, por todo aprendizado e conselhos —, me inteirar de processos de negócio complexos, conhecer diferentes cidades e atuar em diversas empresas renomadas. Certamente, isso me fez ser o profissional que sou hoje, não só em termos de conhecimento, mas também no aprimoramento de meu caráter, valores, princípios e, claro, na construção da minha trajetória.
Juliana Gavineli: O maior acerto da minha carreira, com certeza, foi o que chamo de “ser curiosa” — curiosa para entender como os processos funcionam de ponta a ponta, envolvendo todas as áreas da empresa. Essa motivação e vontade de aprender me levaram a fazer parte da linha de frente de diversas reestruturações e projetos de alta complexidade, o que não só ampliou minha expertise técnica, mas também me permitiu desenvolver habilidades de liderança e gestão, além da capacidade de “pensar fora da caixa”. A oportunidade de atuar em um ambiente dinâmico e de constante transformação me desafiou a ir além das minhas responsabilidades e a buscar soluções inovadoras.
Tatiana G. C. Asti: O primeiro maior acerto da minha trajetória profissional foi saber o que eu não queria. Olhando para trás, vejo que ter dito “não” para algumas posições ou mudanças de empresas que traziam alguns pontos de desconforto fizeram a diferença para a construção de uma carreira consistente e coerente. O segundo acerto foi sempre buscar ter empatia — me colocar no lugar do outro e pensar como se eu estivesse na cadeira do meu cliente. Assim, pude propor soluções e buscar o melhor para o negócio em uma visão mais ampla.
Viktor Moszkowicz: Acredito que se tivesse que escolher apenas um maior acerto em minha carreira, apontaria a busca constante por desafios que me permitissem aprender e crescer ao lado de profissionais de referência. Essa mentalidade me trouxe inúmeros frutos e permitiu que eu desenvolvesse uma visão ampla e estratégica e, consequentemente, contribuísse significativamente para as posições que assumi.
Se pudesse ter feito algo diferente ao longo da sua trajetória profissional, o que teria feito?
Eliane Velo Dominguez: Acredito que cada decisão e cada passo foram cruciais para o meu crescimento. Ao refletir sobre minha trajetória, sinto que faria tudo da mesma forma, pois estou satisfeita com minha história pessoal e profissional. Mesmo que, em alguns momentos, tenha parecido que tomei o caminho errado, essas experiências revelaram-se valiosas e importantes no longo prazo. Celebro tanto os erros quanto os acertos que moldaram minha trajetória!
Guilherme Mageste: Acredito que tudo que aconteceu até aqui — cada conquista, erro e acerto, celebração e frustração — foi fruto da decisão que tomei lá em 2008, ao deixar minha cidade natal. Sempre tomo minhas decisões ponderando aspectos positivos e negativos. Cada escolha teve, à época, seus motivos e razões. Olho para trás e sinto orgulho do que trilhei: chegar aonde cheguei sendo um garoto do interior, ter no currículo passagens por grandes empresas, ter a condição de criar meus dois filhos. De verdade, não faria nada de diferente. Repetiria tudo novamente!
Juliana Gavineli: Ao longo da minha trajetória profissional e vivência pessoal, tenho aprendido e me desenvolvido como ser humano, o que me trouxe novos “óculos” para ver minha trajetória. Não tenho dúvidas de que cometi muitos erros, mas foram eles que me tornaram quem sou hoje, ou melhor, quem “estou” hoje. Claro que, se pudesse escolher algo para mudar, eu escolheria ter tido mais tempo para estar comigo mesma, “olhar para dentro” e cuidar mais de mim. Hoje, tenho a convicção de que o autoconhecimento é um caminho essencial para o crescimento, seja ele pessoal ou profissional, e para sermos melhores para nós mesmos e para quem nos cerca. Ao nos aprofundarmos em quem nós somos e olharmos para o interior, descobrimos nossas virtudes e enfrentamos nossas fraquezas, transformando desafios em oportunidades de evolução.
Tatiana G. C. Asti: Acredito que eu teria investido em autoconhecimento mais cedo na minha carreira. Entender de maneira mais profunda as minhas fortalezas, fragilidades e gatilhos de comportamentos teria me ajudado a me cobrar menos e a explorar mais o que tenho de melhor desde o início. Especialmente em Finanças, há uma cobrança muito grande pela fortaleza técnica, que é realmente necessária; porém, é evidente que, hoje, apenas a capacidade técnica não é suficiente para a evolução contínua na carreira. É essencial investir em uma formação completa, desenvolvendo, cada vez mais, capacidades de influência, negociação, comunicação e liderança.
Viktor Moszkowicz: Olhando em retrospectiva, não teria feito nada diferente, pois cada escolha me preparou para enfrentar desafios futuros e agregar valor às áreas em que atuei. Cada decisão que tomei ao longo da carreira foi cuidadosamente considerada, com base nos melhores recursos e informações disponíveis. Sempre busquei trabalhar com profissionais do bem, que têm um forte compromisso em fazer o certo e melhorar continuamente, pois acredito que estar cercado de pessoas com esses valores não apenas enriquece o ambiente de trabalho, mas também impulsiona o sucesso coletivo. Além disso, busquei a excelência e a inovação, aprendendo com cada experiência, erro ou acerto e, hoje, vejo minha trajetória profissional como uma série de oportunidades de aprendizado e crescimento contínuo. Sou extremamente grato por tudo que consegui e estou entusiasmado para continuar contribuindo positivamente.