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Não faz muito tempo, os Executivos Financeiros eram vistos como profissionais que só faziam análises em planilhas de Excel, rodavam cálculos e eram pouco dados a relacionamentos interpessoais. A predominância de homens introspectivos ajudava a fortalecer o estereótipo de uma profissão dura, que exigia distanciamento pessoal e pouca sensibilidade.  

Atualmente, as estatísticas das grandes companhias começam a ser mais equilibradas em relação a gênero, uma vez que as mulheres estão mais presentes, além da abertura para outros grupos sociais. Com isso — e, talvez, por isso —, houve uma mudança na predominância do estilo de liderança dentro das áreas de Finanças das empresas. 

A pesquisa O Perfil do CFO no Brasil 2023, realizada pela Assetz em parceria com o Insper, apontou que, em relação ao estilo de liderança, o mais prevalente entre os participantes é o de “mentor”, representando 31% das respostas. Esse perfil “demanda uma abordagem empática, fundamental para promover o desenvolvimento das pessoas”, afirma o relatório do estudo, que foi conduzido por Carlos Caldeira e Osvaldo Ignacio Baptista, professores do Insper. 

Para Ebenilson Santos, Ex-Vice-Presidente Executivo da Agro Amazônia, é esperado que, hoje, o profissional de Finanças tenha uma atuação voltada para tomada de decisão junto às áreas core do negócio. Ele destaca “capacidade de interlocução, decisão e influência, somada a liderança de projetos multidisciplinares e atuação como parceiro de negócios” como atributos que ajudaram a reformar o perfil desejado do profissional de Finanças, “sendo a parte técnica (hard skills) um requerimento mínimo e o escopo emocional, como ‘jogo de cintura’ e visão fora da caixa (soft skills), um fator diferencial e um dos mais procurados”. 

O perfil mentor superou, com alguma margem, outro bastante mencionado — o “diretor”, mais voltado à aplicação prática de soluções e menos dado ao tato pessoal. Segundo o relatório, o perfil diretor, “ao estabelecer metas e objetivos de forma clara, fornece estrutura e busca soluções para os problemas que surgem”.

Mulheres ajudaram a mudar o estigma

Embora a questão do gênero não seja a única responsável pela mudança no perfil de lideranças em Finanças, ela tem contribuído sobremaneira para a introdução de elementos mais comportamentais no rol de requisitos importantes para um executivo da área. É assim que avalia Sergio Lazcano, CFO da Renault do Brasil; ele afirma que a operação global da Renault conta com grande participação de mulheres em posições de CFO e que, em sua hierarquia, a posição de CFO para a América Latina é ocupada por uma mulher.

A pesquisa O Perfil do CFO no Brasil 2023 reforça que, ao assumir a posição de CFO, torna-se crucial para o profissional trazer uma visão estratégica ampla, capaz de abranger várias áreas do negócio e promover sua integração de maneira eficaz, o que exige qualidades muito além daquelas que eram essenciais ao CFO anteriormente.  

Além disso, o estudo aponta que é fundamental ao líder mostrar empatia e compreensão para com a equipe e adotar uma liderança mais humanizada. Segundo a pesquisa, em média, um CFO tem sob sua responsabilidade 118 pessoas direta ou indiretamente, sendo 9 diretos.

A edição de 2023 do estudo revela que, entre as competências comportamentais mencionadas no relatório The Future of Jobs 2020, do Fórum Econômico Mundial, como sendo as principais para 2025, a categoria “resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade” é a mais premente para um líder de Finanças, sendo citada por 20% dos participantes. 

Rita Carvalho, CFO e IRO da Rede d1000, conta que o cotidiano impõe lidar com os prazos curtos, as metas desafiadoras e a necessidade de análise constante do negócio para eventuais mudanças de rotas, de forma tempestiva e levando em consideração os impactos no negócio. Ademais, mudanças econômicas e no ambiente regulatório podem acontecer e também requerem análise e aprofundamento constantes nos diversos temas.

Na cadeira de CFO, ela diz que nem sempre as decisões são as mais fáceis de serem tomadas; dessa forma, resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade são características bem importantes para a função. A executiva afirma que essas habilidades permitem respostas mais rápidas aos acontecimentos e eventuais adaptações necessárias que sustentem o negócio, e que a resiliência traz equilíbrio para pensar em caminhos e cenários alternativos e possibilita criar novas alternativas para resolução de problemas.

Hard x soft skills

Diante da necessidade de reformar o perfil do CFO, como mencionou Santos, os executivos passam a ter a demanda de somar à parte mais técnica do cargo atributos que envolvem, segundo Lazcano, a habilidade de “apresentar assuntos complexos de modo simples e sintético, adaptar-se às mudanças do entorno, sejam causadas por fatores internos ou externos, e criar equipes de trabalho que ajudem a empresa a atingir os objetivos”. Para ele, “isso tem mais relevância do que nunca”.

Tais habilidades devem ser acrescidas a uma base sólida de hard skills, que contempla desde o conhecimento dos domínios regulamentares — como contabilidade, área fiscal, compliance e controle interno, gestão de riscos, aduanas e tesouraria — até elementos que acompanham a performance do negócio. “Essa parte pode ser uma controladoria que saiba não só acompanhar o negócio como também seja uma fonte de geração do seu crescimento sustentável, indo além do perímetro financeiro”, diz o executivo da Renault.

Para Lazcano, não é mais suficiente só ter uma inteligência lógico-matemática desenvolvida para calcular se um negócio é rentável ou não, se o plano estratégico da empresa vai gerar os resultados no longo prazo ou se a empresa vai alcançar o lucro esperado no fim do ano. Para o executivo, o CFO precisa mostrar habilidades de empatia, saber lidar eficazmente com desafios e cultivar relacionamentos com todos os membros da empresa, independentemente de seu nível hierárquico.

Rita, da Rede d1000, diz que a inteligência emocional contribui para manter o equilíbrio necessário em diferentes situações e tomar decisões baseadas no conjunto de informações disponíveis e impactos nos resultados da companhia. Entre as principais soft skills, a executiva destaca como uma das mais importantes a habilidade de gerenciar times. 

Para Rita, é fundamental que o CFO saiba inspirar as equipes e se cerque de pessoas engajadas e comprometidas com as entregas. Ela acredita que conhecer as características do time e entender que as equipes são diversas ajuda muito no engajamento de todos e que, por isso, a habilidade de envolver pessoas de diversas áreas da companhia coopera para que os resultados sejam atingidos.

RITA CARVALHO

CFO e IRO | Rede d1000

SERGIO LAZCANO

CFO | Renault do Brasil

EBENILSON SANTOS

Ex-Vice-Presidente Executivo