Apesar do crescente destaque dado às questões de preconceito e diversidade no meio empresarial, ainda persistem disparidades significativas relacionadas à inclusão, remuneração e reconhecimento com base em gênero, raça e posição social.
A pesquisa “O Perfil do CFO no Brasil 2023” revela que, embora as mulheres representem apenas 13% dos CFOs entrevistados, são responsáveis por 20% do total de certificações obtidas. Esse dado sugere que as mulheres enfrentam desafios adicionais, como preconceito e discriminação, ao buscar posições de liderança, de modo que acabam dispendendo mais energia para comprovar suas habilidades profissionais.
Empresas como a Natura têm se destacado como referências na promoção da diversidade. Glaucia Santos, Gerente de Marca Empregadora, Atração e Seleção e Onboarding da Natura, destaca avanços significativos nas organizações, especialmente na melhoria dos canais de escuta aos colaboradores.
Ela ressalta que a identificação e o combate à discriminação exigem um esforço proativo na disseminação da cultura corporativa, incluindo o “letramento” das equipes sobre diferentes grupos sub-representados.
Preconceito no ambiente de trabalho: como identificar?
A Natura tem sido um case quanto à identificação do preconceito no ambiente corporativo. Glaucia Santos, da Natura, compartilha conosco algumas iniciativas práticas. Confira:
• O canal de ética deve ser preparado não apenas para receber relatos, mas também para classificá-los adequadamente.
• Os atendentes devem receber formação específica para lidar com relatos e desenvolver uma comunicação assertiva.
• Estimular a criação de grupos de afinidade, proporcionando um espaço de segurança psicológica para relatar situações vividas.
• A liderança deve estar preparada para receber e lidar com relatos, com uma política de consequência bem estabelecida.
O papel do CFO na construção de uma cultura diversa
Thaís Porto, Diretora Financeira do Grupo Alubar, acredita que as empresas estão cada vez mais preocupadas em manter ambientes de trabalho justos e harmoniosos. Ela destaca que a falta de diversidade limita o pensamento analítico da equipe, prejudicando a assertividade nas tomadas de decisões.
A diretora do Grupo Alubar afirma ainda que o CFO, como líder, pode desempenhar um papel crucial na promoção da diversidade, estabelecendo metas e estratégias claras. Isso envolve a definição de objetivos específicos, como aumentar a representação de grupos sub-representados e garantir investimentos adequados para programas de diversidade e inclusão.
Confira algumas ações propostas em relação à diversidade pela Thaís Porto:
• Implantar programas de compliance e canais de ética.
• Desenvolver processos educativos por meio de programas de diversidade e políticas específicas de inclusão.
• Criar grupos de trabalho para o desenvolvimento de uma cultura interna mais holística.
• Permitir a contribuição pessoal e profissional sem qualquer viés discriminatório.
• A promoção da diversidade se conecta diretamente à inovação nas organizações. Um estudo do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) destaca que o aumento na diversidade étnico-racial e de gênero está associado a incrementos na produtividade das empresas.
Glaucia, da Natura, ressalta que diferentes grupos sub-representados na organização contribuem para um ambiente mais produtivo: “Um estudo recente do ID_BR mostra que, para cada 10% de aumento na diversidade étnico-racial, há um incremento de quase 4% na produtividade das empresas e que, a cada 10% de elevação da diversidade de gênero, há um acréscimo de quase 5%”, menciona a executiva.
Na Repsol Sinopec Brasil, os objetivos de diversidade e inclusão são estrategicamente definidos, e as ações planejadas são registradas nos planos de sustentabilidade anuais. Gilberta Lucchesi, Deputy CFO da empresa, destaca que os processos seletivos são pautados na paridade de gênero, buscando a igualdade de oportunidades. Outras ações incluem processos seletivos ocultos, grupos de afinidade e ações estratégicas do Comitê de Diversidade e Inclusão.
Além disso, a Repsol tem um grupo global de pessoas Aliadas LGBTI+, a fim de incentivar o diálogo e a proposição de iniciativas para um ambiente mais inclusivo. A empresa destaca a importância de ações práticas, como a implantação da licença paternidade de quatro meses e a criação de banheiros sem gênero.
Promover a diversidade é uma jornada contínua, e as empresas estão cada vez mais conscientes da importância de criar ambientes inclusivos e acolhedores. E, sem dúvida, o CFO desempenha um papel crucial nesse processo, liderando esforços e contribuindo para a construção de culturas corporativas mais diversas e representativas.