Para além das hard skills, são as competências comportamentais que diferenciam o executivo preparado para crescer de forma consistente na carreira
> Por João Ferreira, Head de Operações para Rio de Janeiro, Minas e Centro-Oeste na Assetz Expert Recruitment
Entre as qualidades que moldam o perfil de um CFO, destacam-se gestão de pessoas, profundo domínio técnico em Finanças e conceitos contábeis, boa capacidade de oratória e articulação. Mas esses atributos representam apenas a base. O avanço na carreira exige competências comportamentais, que não apenas complementam, mas viabilizam o sucesso dos executivos do século XXI.
Enquanto especialista em recrutamento no segmento de Finanças há quase uma década, tive a oportunidade de conversar com mais de mil executivos. O que percebo é claro: a preocupação com o desenvolvimento de habilidades comportamentais cresce a cada ano. O CFO de destaque não é aquele que responde sozinho a todas as questões técnicas, mas aquele que formula as perguntas certas, provoca seu time e cria espaço para que as soluções surjam de forma autônoma.
Empatia como vantagem competitiva
Nos últimos anos, a empatia ganhou visibilidade no repertório dos CFOs. Demonstrar compreensão genuína pela equipe e adotar uma liderança mais humanizada deixaram de ser qualidades desejáveis: tornaram-se essenciais.
Comportamentos positivos influenciam diretamente o ambiente de trabalho. Considerando que um CFO lidera em média 124 pessoas* — seis delas diretamente —, o impacto da empatia se torna ainda mais evidente.
Executivos que exercem uma liderança humanizada elevam a moral, fortalecem a colaboração e criam um ambiente fértil para a inovação. A empatia, nesse contexto, não é um atributo acessório: é uma vantagem competitiva.
Vulnerabilidade como força
Ninguém domina tudo. No contexto atual, em que o CFO é chamado a atuar em múltiplas frentes do negócio, admitir vulnerabilidade é sinal de maturidade e força. Ao assumir novas funções — por exemplo, um gerente de contabilidade que passa a liderar o planejamento financeiro —, demonstrar humildade e reconhecer limitações pode ser o caminho para conquistar apoio e exercer sua função com excelência. Essa atitude também reverbera na equipe: quando a liderança se mostra vulnerável, abre espaço para que os colaboradores façam o mesmo, recebam suporte e desenvolvam novas competências. O resultado é um time mais forte e preparado para os desafios diários.
Networking: ativo estratégico
80% dos executivos dedicam cerca de 13% de sua agenda semanal ao desenvolvimento de networking externo, indica a pesquisa “O Perfil do CFO no Brasil – 2024“. Esse dado reforça o quanto as relações fora da empresa são decisivas para o desempenho da função.
Manter uma rede ativa abre portas para oportunidades de negócios, parcerias estratégicas e acesso a práticas de mercado. Além disso, fortalece a reputação do CFO e mantém o executivo atualizado sobre tendências e mudanças regulatórias. Networking, portanto, não é atividade periférica: é um pilar da liderança financeira moderna.
Como aprimorar habilidades comportamentais
Algumas competências podem ser naturais, mas muitas precisam ser desenvolvidas. O caminho passa por disciplina mental, postura e hábitos. Desde cedo, estagiários de Finanças que se portam como analistas ampliam suas chances de crescimento. O mesmo vale para gerentes que assumem comportamentos de diretores. A forma como o profissional é percebido dentro da empresa constrói pontes para novas oportunidades.
Outro passo essencial é sair da zona de conforto. Isso significa mais do que falar bem em público; envolve assumir desafios inéditos, correr riscos e buscar experiências que ampliem a capacidade de adaptação. O aprendizado adquirido nessas situações fortalece o executivo para lidar com responsabilidades cada vez maiores.
Em resumo, o lado técnico é indispensável, mas não suficiente. A trajetória sólida de um CFO se sustenta igualmente em suas habilidades comportamentais: empatia, vulnerabilidade, networking e capacidade de provocar e inspirar o time. É nelas que reside a verdadeira vantagem competitiva para quem deseja não apenas ocupar, mas se destacar nas cadeiras de liderança financeira.
* Fonte: Pesquisa “O Perfil do CFO no Brasil – 2024”, realizada pela Assetz Expert Recruitment em parceria com o Insper.