Em cenários de mudança, formação acadêmica que prioriza o desenvolvimento de liderança e gestão de pessoas torna-se essencial para quem deseja avançar na carreira
Há muito tempo, o papel do CFO deixou de ser apenas técnico. Além de dominar as planilhas e articular diferentes áreas da organização, é fundamental que o líder financeiro assuma o papel de “orquestrador de pessoas e performances”, como destaca Paulo Almeida, Diretor do Núcleo de Pesquisa de Liderança da Fundação Dom Cabral. Isso exige ampliar o repertório e investir em formações que desenvolvam competências de liderança, gestão de pessoas e comunicação.
Se, por um lado, a vivência prática é essencial para acumular experiência, por outro, a formação acadêmica continua indispensável mesmo para líderes já consolidados. A sala de aula oferece bases sólidas para aplicar conhecimentos de forma consistente, aprimorar habilidades de liderança e compartilhar experiências com profissionais de diferentes contextos, favorecendo reflexão e alinhamento de práticas.
Atentas a essa demanda, instituições renomadas — brasileiras e estrangeiras — vêm ampliando seus portfólios. Hoje, oferecem desde MBAs até especializações técnicas e cursos de curta duração em liderança, negociação e comunicação, além de mentorias e metodologias práticas em formatos presenciais, online ou híbridos.
“Durante muito tempo, associou-se à função financeira apenas às decisões embasadas em dados. Hoje, o CFO também é o orquestrador de pessoas e de performances e está sob sua responsabilidade inspirar, engajar e convencer por meio de narrativas consistentes”, reforça Almeida. Ele afirma que a Fundação Dom Cabral tem ampliado esse olhar em seus programas, conectando estratégia, governança e inovação às Finanças — com destaque para o Programa de Gestão Avançada (PGA), voltado a líderes seniores.
Melissa Afonso, Diretora Associada de Carreira do IESE Business School, alerta que a gestão de pessoas é o “tendão de Aquiles” dos CFOs: “A falta dessa competência pode causar a estagnação da carreira do executivo. Para evitar esse resultado, é preciso buscar uma formação que fortaleça habilidades como liderança, comunicação e negociação”, afirma.
No IESE, essas competências são trabalhadas por meio do “método de caso”, que coloca os alunos diante de problemas reais e em debates coletivos que simulam desde negociações salariais até decisões estratégicas. “O executivo de hoje não se satisfaz apenas com a teoria. Ele quer aprender a resolver as situações que enfrentará na segunda-feira seguinte”, diz Afonso. Esses aprendizados adquiridos em cursos executivos podem ser aplicados na prática e, além do desenvolvimento da liderança, levar a promoções e ganhos salariais relevantes.
Gestão de mudanças
A nova agenda de aprendizado do líder financeiro inclui ainda a relação com a inteligência artificial e a transformação tecnológica. Como observa Paulo Almeida, da Fundação Dom Cabral, o Executivo de Finanças não liderará apenas pessoas, mas também agentes digitais que se interrelacionam com elas. “O CFO precisa dominar a análise de dados, compreender a inteligência artificial e, ao mesmo tempo, desenvolver inteligência emocional. É sob esse tripé que se sustenta a liderança do futuro”, explica.
Andson Braga de Aguiar, Professor Associado da FEA-USP e Coordenador do Grupo de Pesquisa Reverbera, reforça que, em estágios mais avançados da carreira, o que diferencia o CFO não é mais a profundidade técnica, mas sim sua capacidade de liderar mudanças. Para ele, em cenários de transformação, “o CFO experiente deve atuar como protagonista e mentor de novas gerações”.
Nesse processo, ocorre uma transição natural: em determinado momento da carreira, o profissional deixa de atuar apenas como analista técnico para assumir um papel de liderança e gestão, inspirando e coordenando equipes rumo a objetivos comuns. Quando o líder se prepara formalmente para antecipar mudanças e transmitir confiança à equipe, sua gestão se torna mais eficaz. Nesse sentido, o professor da USP ressalta que “nada substitui o conhecimento técnico, mas ele precisa caminhar junto com habilidades interpessoais. É isso que o mercado espera, de fato, de quem ocupa funções financeiras estratégicas”.
A FEA-USP, em parceria com fundações como a FIPECAFI e a FIA, oferece desde programas acadêmicos tradicionais até cursos de extensão que valorizam o desenvolvimento de soft skills. Nessas formações, práticas como apresentações, trabalhos em grupo e atividades colaborativas preparam o CFO para a realidade do mercado. “O CFO só avançará em sua carreira se desenvolver soft skills como comunicação, empatia e capacidade de trabalhar em equipe”, reforça Andson.
Trilhas de desenvolvimento para Executivos de Finanças
Especializações, cursos técnicos e de extensão: formações contínuas em áreas específicas de Finanças, como FP&A, Controladoria e Contabilidade, garantem atualização constante e rigor técnico.
MBAs Executivos (Executive MBA): programas avançados em negócios ampliam o repertório em estratégia, governança e liderança.
Mestrado e Doutorado: formações stricto sensu proporcionam aprofundamento analítico, pensamento crítico e base acadêmica sólida para líderes consolidados.
Programas de gestão e cursos livres: formações de curta duração permitem o desenvolvimento de liderança, negociação, comunicação e gestão de mudanças, além de soft skills como escuta ativa, empatia e storytelling.
Programas de mentoria: programas de aconselhamento e orientação profissional geram oportunidades de aprendizado e troca de experiências com executivos seniores.
Decisões embasadas em ambientes de mudança exigem visão sistêmica e expansão de repertório, segundo Raquel Fraga, Coordenadora de Pós-Graduação na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI). Ela ressalta que o líder financeiro se transformou em um elo estratégico entre a área de Finanças e todas as demais áreas da organização: “O CFO precisa dominar governança corporativa e, ao mesmo tempo, fomentar a inovação, liderar melhorias nas funções financeiras, impulsionar a transformação digital das equipes e traduzir dados em uma linguagem acessível para toda a cadeia de valor”.
A mudança de escopo explica por que o aprendizado contínuo (lifelong learning) deixou de ser um diferencial para se tornar parte integrante do trabalho do executivo financeiro. Fraga revela que a instituição que representa incorpora esse entendimento em seus cursos de forma intencional. Para executivos em cargos mais avançados, o foco está em formatos flexíveis e experiências que priorizem networking, habilidades comportamentais e vivências reais.
Habilidades no radar de desenvolvimento do líder de Finanças
Liderança e gestão de equipes: inspirar, engajar e coordenar equipes rumo a objetivos comuns.
Comunicação e storytelling: transformar informações financeiras em decisões claras e estratégicas.
Habilidades comportamentais: flexibilidade, resolução de problemas, empatia, escuta ativa e inteligência emocional.
Alinhamento cultural: compreender valores, propósito e compatibilidade de perfis para fortalecer a cultura organizacional.
Gestão de mudanças: preparar equipes para inovação e transformações internas e do mercado.
Visão estratégica e sistêmica: integrar Finanças ao escopo de governança e ESG.
Domínio de tecnologias: aplicar ferramentas digitais e inteligência artificial de forma estratégica para apoiar a gestão da equipe.
Aprendizado contínuo: atualizar constantemente conhecimentos técnicos e comportamentais para liderar e desenvolver talentos.
A lógica se estende também aos líderes de Finanças que já visam posições como CEO ou nos Conselhos de Administração. Para esse público, Fraga destaca que o aprendizado contínuo é ainda mais crucial: “Mesmo após conquistas relevantes, sempre há espaço para expandir repertório, aprofundar a visão de negócio e refinar habilidades para liderar em contextos complexos e dinâmicos”, avalia.
Nesses casos, a formação acadêmica deve ampliar o olhar sobre gestão de pessoas, cultura organizacional e liderança em ambientes de transformação, além de abordar temas como ESG, inovação e governança. “Existe uma relação simbiótica entre teoria e prática: o mundo acadêmico se alimenta dos desafios reais das empresas e, ao mesmo tempo, oferece modelos e soluções para apoiar líderes”, conclui a Coordenadora da FIPECAFI.”