Sua mente é sua para comandar. É você quem está no leme?
Por Arthur Azevedo
“Tive muitas preocupações na minha vida. A maior parte delas nunca aconteceu!”
(Mark Twain, pseudônimo usado por Samuel Langhorne Clemens, escritor, humorista, empreendedor, editor e palestrante Norte Americano)
Entre as ideias usadas na Programação Neurolinguística, existe a distinção entre Território e Mapa do Território. O Território é a realidade do jeito que ela é. Simplesmente está lá, sem nenhuma intervenção ou interpretação humana. Já o Mapa do Território é como enxergamos aquela realidade em nossa mente. Inevitavelmente, carregará algum nível de componente interpretativo – consciente ou não – refletindo nossas experiências e nossas crenças. A grande questão é: em que mundo vivemos? No Território ou no Mapa do Território?
Nossa mente é incrível, pois está em constante movimento, criando cenários, interpretando eventos, ou seja, construindo mapas após mapas sobre o acontece conosco, sobre o que as pessoas nos dizem, sobre olhares. Estamos sempre procurando nas entrelinhas uma dica, uma pista ou qualquer coisa que não foi dita, e, sobre estes pontos, construímos teorias, interpretações que, no fim do dia, guiam nossas decisões e nossas ações. Mas, como Mark Twain, brilhantemente, colocou afirmou, muitas destas “verdades” nunca existiram.
Quanta vezes coloquei entonação sobre um texto de email ou uma mensagem de WhatsApp recebida, como se a pessoa tivesse me desafiando ou me criticando. Ato contínuo, logo me coloquei na defensiva, respondi de maneira beirando a rispidez e incluí o(a) autor(a) na lista dos(as) adversários(as). Quantas vezes assumi o que não foi dito como uma verdade e deixei de falar, de esclarecer e, pior, defini passos de vida e de carreira com base nesta informação incompleta.
E, assim, vamos seguindo, carregando mágoas, ressentimentos, dúvidas e, muitas vezes, tristezas em função de coisas que nunca aconteceram de verdade. Nós nos guiamos pelos mapas desenhados em nossa mente influenciadas por medos, vaidades, soberbas, falsos otimismos e valores que trazemos conosco. Esquecemos de nos desafiar, esquecemos de questionar nossas verdades, temos medo de ir até lá e perguntar, tirar a dúvida e confrontar. No fim do dia, optamos pela não comunicação.
Nossa mente é sensacional, mas ela prega truques em nós. Ao mesmo tempo, tem o poder de resolver a questão, desde que tenhamos a consciência clara que não sabemos de tudo. Às vezes, pensamos que sim, mas, na vasta maioria das vezes, não sabemos. E o caminho para aprender é buscar sempre a comunicação clara com aqueles que interagem conosco.
Existem várias referências, técnicas e conceitos muito disseminados por vários autores. Se quisermos tomar as melhores decisões, construir relacionamentos duradouros saudáveis e, no fim do dia, sermos mais felizes, livres desses sentimentos que não nos ajudam, entendo que algumas boas e simples estratégias incluem:
- • Desafiar nossas conclusões: precisamos desarmar nossa mente das ideias preconcebidas e interpretações. Em dada situação que lhe incomode de alguma forma, pegue um lápis e escreva quais são os fatos e os dados conhecidos. Ou seja, evidências objetivas. O que você, de fato, sabe, pelo que foi dito ou observado. Ao lado, liste as interpretações, os julgamentos e as inferências que você está fazendo. Agora, questione-se: quais são as conclusões que os fatos suportam? Quais são as conclusões que não são suportadas pelos fatos? Descarte-as, sem piedade. O que você precisa saber mais para chegar a uma conclusão racional? O que você precisa testar e, principalmente, perguntar? E vá atrás da informação. Você pode se surpreender de quão errado estava no início. Aconteceu comigo: expatriado, nos Estados Unidos, queria muito uma movimentação que não aconteceu e me foi oferecida outra posição, até mais importante. Aceitei e carreguei comigo aquela mágoa de não terem me foi oferecido o que eu gostaria. Mais de um ano depois, numa conversa com meu superior da época, eu mencionei isso. Ele me olhou com surpresa e disse: “eu nunca soube que você queria aquela posição. Na realidade, achei que seria pouco para você e, por isso, nem ofereci. Busquei algo que considerava mais desafiador para você”. Eu parei para pensar e me caiu a ficha de que eu nunca havia deixado claro o meu desejo. Parece que achava que as pessoas adivinhariam por elas mesmas. E pior, carreguei um ressentimento simplesmente porque as pessoas não eram advinhas. Parece ridículo, mas acredite, acontece toda hora.
- • Descer do pedestal da verdade: até porque, na realidade, ele não existe. Nós mesmos o criamos e nos colocamos lá. O exercício, aqui, é de humildade. Entender que não sabemos tudo e nos abrir para novas realidades e novos aprendizados. Nós não precisamos estar certos o tempo todo, as coisas não precisam ser como queremos o tempo todo, as pessoas não precisam seguir nossas receitas o tempo todo, não precisamos ter uma teoria ou solução para todas as situações ou conversas. Já tiveram alguma conversa onde você simplesmente queria falar sobre uma situação com alguém só para se ouvir, dividir, mas a pessoa vem com aquela “receita de bolo” sobre o tema, o que você deveria fazer e sentir? Já? Pois é, usando um termo bem mineiro: que preguiça, não? Não queremos ser essa pessoa, queremos? Aqui, cabe lembrar do sábio Raul Seixas: “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.
- • Colocar de lado os julgamentos: precisamos observar mais e julgar menos, ou, na pior das hipóteses, adiar o julgamento para depois. Tendemos a pensar sempre em “certo ou errado”, “moral ou imoral” e por aí vai. Buscamos colocar rótulos nas pessoas ou nos eventos. O problema é que estes conceitos, na maioria das vezes, são nossos, baseados nas réguas que criamos com nossos valores. Não são absolutos. Marshal B. Rosenberg, autor de Comunicação Não Violenta – Uma Linguagem de Vida, menciona esses julgamentos como sendo “alienadores da vida”, pois nos lançam para “escanteio” no campo da comunicação, criando barreiras e bloqueios. Frequentemente, ouvimos linguagens como esta em feedbacks no trabalho. Julgamentos e rótulos expressos na forma de adjetivos que são vazios e dizem mais de quem fala do que de quem ouve. Não trazem fatos, observações, não trazem sentimentos, necessidades e, pior, não trazem nenhum pedido específico. O resultado? Colocam a pessoa para baixo, destroem a autoestima e, simplesmente, não ajudam em nada.
Muitas vezes, quando estamos muito inflamados, vale fazer o exercício da “desassociação”, ou seja, saia da posição de agente, de envolvido na questão e se coloque como um terceiro observando a situação por vários ângulos. Você exercitará se ver a partir deste ponto de vista como se fosse uma terceira pessoa. Deixe os julgamentos, os sentimentos lá e observe de fora. Analise, friamente, o que faz sentido e o que não faz. Onde estão os dados, onde estão as interpretações. Se você, como terceiro, fosse dar um conselho para o seu “eu inflamado”, o que diria?
Nossa mente é nossa para comandar. Os filósofos estoicos dizem que a mente é uma fortaleza que não pode ser tomada pelo lado de fora. Pode somente ser entregue pelo lado de dentro, ou seja, se nos deixamos levar pelos acontecimentos, se reagimos, intempestivamente, se tomamos decisões erradas, não podemos culpar ninguém a não ser a nós mesmos. Se abrimos os portões da nossa mente e a entregamos, não dá para terceirizar esta culpa.
Nesta linha e, para não quebrar a tradição, deixo um pensamento de Zenão, fundador da escola de pensamento estoica: “Se puseres mãos violentas sobre mim, terás o meu corpo, mas minha mente continuará com Estilpo”. Neste caso, Estilpo foi um filósofo grego, a quem Zenão reputava como seu mestre.
Abraços e até a próxima!