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De acordo com os teóricos funcionalistas, cada indivíduo na sociedade exerce uma determinada função, de modo que o conjunto de todas elas promove um funcionamento social harmônico. De forma análoga, ocorre o mesmo no ambiente corporativo, pois as várias áreas que o compõem apresentam funções individuais, embora, juntas, contribuam, como um único time, para o crescimento do negócio da companhia. Dentro desse contexto, Finanças consiste não somente em uma área que agrega valor ao desenvolvimento da organização como um todo, mas também que assume um papel primordial nesse sistema, haja vista a privilegiada visão holística que possui da corporação e a interação constante com todas as outras funções internas. No entanto, grandes responsabilidades exigem uma grande preparação. 

O Executivo de Finanças, nesse sentido, precisa desenvolver uma série de atributos para que seja capaz de garantir a eficiência e a eficácia da área que lidera. Em decorrência disso, o mercado de trabalho acaba exigindo desse profissional determinados conhecimentos técnicos e habilidades comportamentais específicos para considerá-lo preparado o suficiente para o desempenho de sua função.

Conhecimentos Técnicos

Sob a ótica técnica, o Executivo de Finanças que busca crescer profissionalmente e atingir responsabilidades cada vez maiores em sua carreira deve apresentar uma jornada acadêmica consistente, composta, prioritariamente, por uma graduação, um curso de especialização e outro de MBA, seja no Brasil, seja no exterior. Entretanto, devido a uma realidade e a um mercado extremamente mutáveis, com uma agenda de transformação digital em andamento, novas pautas de discussão e tendências surgindo a todo momento, o conceito de “formação” teve sua data de validade reajustada, sendo prolongada por toda a vida: trata-se do lifelong learning. Dessa forma, é essencial que o profissional financeiro dedique boa parte de seu tempo à realização de cursos de curta duração e à participação em webinars, workshops e seminários, que contribuem para o aprendizado contínuo de novos conceitos financeiros e para a atualização constante sobre novas ferramentas de tecnologia. A vivência em projetos de implementação de sistemas ERPs (Enterprise Resource Planning), a automatização de rotinas e relatórios – com a utilização de RPA (Robotic Process Automation) – e o desenvolvimento de relatórios em dashboards, por exemplo, vêm se tornando experiências imprescindíveis na trajetória profissional do Executivo de Finanças. 

Se, por um lado, a constante mudança do mercado traz a necessidade de um conhecimento cada vez mais profundo e atualizado, por outro, certas capacidades nunca envelhecem e continuam sendo primordiais, como a proficiência no idioma inglês, haja vista o mundo globalizado e interligado em que vivemos ainda mais potencializado pelo avanço da tecnologia. De acordo com os dados dos processos seletivos em Finanças conduzidos pela Assetz durante o primeiro semestre de 2022, cerca de 88% das posições, tanto em empresas brasileiras quanto estrangeiras, exigiram um nível de proficiência avançado, fluente ou nativo no idioma. Ao mesmo tempo, aproximadamente 39% das posições demandaram ao menos uma proficiência intermediária no idioma espanhol, especialmente considerando o fato de o Brasil ser protagonista – e muitas vezes consolidador – em relação aos negócios na América Latina.

No que diz respeito às disciplinas financeiras, algumas delas são imprescindíveis na composição da base técnica do profissional. Conceitos sólidos em contabilidade, impostos, controladoria, planejamento financeiro, business support e tesouraria (cash management) são fundamentais na formação do Chief Financial Officer, cuja tecnicidade pode variar de acordo com o segmento, o porte, a nacionalidade e a estrutura acionária das companhias pelas quais passou e se desenvolveu. No entanto, também é válido ressaltar que outras disciplinas de Finanças ganham cada vez mais relevância na agenda do Executivo financeiro. Com a ampliação das práticas de ESG (Environmental, Social and Governance), a instabilidade monetária e de preços ao redor do mundo, o aumento do volume de empresas com ações negociadas na bolsa e a grande quantidade de dados coletados virtualmente, os conhecimentos em temas relacionados às funções de Governança, Risk Management, Tesouraria (front office), Relação com Investidores e Data Analysis tendem a ser ainda mais exigidos dos Executivos nos próximos anos.

Entretanto, apesar de os principais conhecimentos exigidos do profissional financeiro corresponderem, naturalmente, às disciplinas de Finanças, também é fundamental que se conheça o modus operandi, a forma de pensar e as prioridades das demais áreas da companhia. Assim, será capaz de dar o suporte adequado aos seus pares e ajudá-los no processo de tomada de decisões mais assertivas e eficazes para o negócio. Ressalta-se o fato de que, em muitos casos, o próprio CFO torna-se o responsável por outras funções, como compras, jurídico, recursos humanos e tecnologia, o que maximiza a importância de possuir uma visão holística e um entendimento mais amplo do que se passa dentro da organização e o que pode ser facilitado através da liderança de projetos multidisciplinares e da frequente troca de ideias com os líderes dessas áreas.

Um ponto importante a ser levado em consideração é a participação ativa em projetos ad-hoc, ou seja, que fujam da rotina e das atribuições do dia a dia. Essa experiência torna-se cada vez mais relevante aos olhos do mercado e dos recrutadores, uma vez que sinaliza o desenvolvimento de uma maior capacidade de organização, flexibilidade e influência, além de visão sistêmica e liderança indireta, habilidades fundamentais para o sucesso do profissional da área financeira. Com isso, projetos como a estruturação de um centro de serviços compartilhados, a abertura de capital, a compra ou a venda de empresas e a integração de companhias adquiridas têm sido considerados grandes diferenciais para a construção de uma trajetória profissional robusta. Outras experiências profissionais pontuais também valorizam ainda mais o currículo dos Executivos de Finanças, como passagens por firmas de auditoria externa, consultorias (de processos, gestão ou estratégica) ou instituições do mercado financeiro. Além disso, períodos consistentes de trabalho no exterior, atuação em funções com escopos geográficos variados (local, regional e global) e passagens por organizações de diferentes portes, setores e estruturas acionárias reforçam a sua habilidade de adaptação a mudanças, além de enriquecer e diversificar seu conhecimento técnico. 

Outro aspecto fundamental a ser considerado na busca por um profissional de Finanças é acerca das expectativas do CEO em relação ao CFO. Majoritariamente, a análise e o gerenciamento de riscos, a implementação de novas tecnologias e a estruturação e a manutenção das melhores práticas de governança e do ambiente de controles são pontos que, aos olhos do CEO, reforçam o papel de parceiro estratégico do CFO e sua capacidade de quantificar e traduzir a estratégia organizacional em metas concretas e objetivos financeiros.

Habilidades Comportamentais

Por se tratar de uma área mais técnica, muito se fala da importância do desenvolvimento dos conceitos financeiros na formação do Executivo. Contudo, a partir de um determinado nível de senioridade, as habilidades comportamentais ganham mais protagonismo e passam a ser mais avaliadas durante um processo seletivo. Nesse sentido, fortalecidas pelo estímulo à criação de equipes mais diversas e com pensamentos distintos, as chamadas soft skills tornam-se cada vez mais relevantes em um ambiente de trabalho colaborativo e desafiador. 

Segundo a pesquisa O Perfil do CFO no Brasil 2022, dentre as habilidades comportamentais mencionadas no relatório The Future of Jobs 2020, do Fórum Econômico Mundial, como sendo as principais para 2025, as três habilidades comportamentais mais desenvolvidas pelos Diretores Financeiros de empresas com faturamento divulgado acima de R$ 1 bilhão no Brasil são “Resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade” (21%), “Liderança e influência social” (16%) e “Inteligência emocional” (15%). Dessa forma, percebe-se que resiliência, flexibilidade e inteligência emocional são essenciais para que o profissional de Finanças consiga lidar, de modo saudável e eficaz, com a pressão pelo cumprimento de prazos e a instabilidade do mercado brasileiro. Quanto à liderança e à influência pessoal, os Executivos financeiros devem desenvolvê-las para serem capazes de liderar tanto a sua equipe direta quanto indireta, especialmente na condução de projetos e no suporte a outras áreas da companhia, o que exige uma postura confiante, protagonista e segura. Além dessas, existem outras soft skills que o mercado reconhece como sendo extremamente relevantes para o bom desempenho do profissional de Finanças, como adaptação a mudanças, planejamento, organização, autoconhecimento e autonomia. Para o CEO, o CFO deve demonstrar visão estratégica, contribuindo para uma tomada de decisão mais assertiva e para a melhoria do desempenho do negócio, além de habilidades de criação de alianças e de comunicação efetiva e consistente com os stakeholders externos.

Em um contexto atual de um ambiente de trabalho em Finanças mais colaborativo e composto por equipes mais diversas, as soft skills passam a ser consideradas essential skills. Escuta ativa, empatia com o próximo, respeito com a individualidade de cada profissional e delegação de tarefas, além de feedbacks e one-on-ones regulares são algumas das atitudes que o líder financeiro deve possuir para desenvolver os membros do seu time e, consequentemente, fomentar um trabalho em equipe mais saudável e produtivo que culmine em bons resultados para a organização.

Outro passo importante para a evolução de carreira do Executivo de Finanças é a sua experiência como Conselheiro. Tal atribuição contribui para o desenvolvimento de certas habilidades, como visão estratégica, priorização de tarefas e senso de dono, além de indicar maturidade profissional e consolidação de uma trajetória sólida.

Nos dias de hoje, o mercado busca um Executivo financeiro que estimule o funcionamento harmônico da companhia como um todo. Dentro desse contexto, o profissional que possui sólidos conhecimentos técnicos, que procura sempre se manter atualizado e que apresenta habilidades comportamentais condizentes com a rotina que a função exige torna-se peça-chave para o sucesso da organização, podendo, inclusive, ser um potencial candidato a sucessor do CEO.

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Guilherme Malfi

Sócio-fundador | Assetz Expert Recruitment

Felipe Brunieri

Sócio-fundador | Assetz Expert Recruitment