Career Insights

“O bem-estar se dá a pequenos passos, embora não seja nada pequeno.”

Zenão, citado por Diógenes Laércio

 

Uma vez, ouvi do historiador Mike Duncan, em sua série de podcasts “The History of Rome”, que o nosso mundo precisa reduzir eventos históricos complexos em unidades menores, pequenininhas, simples e fáceis de entender. Essa hiper simplificação cria referências incompletas e “super-heróis” que nunca existiram, edeixamos de ver lados paradoxais e potencialmente belos das nossas realidades. Ao mesmo tempo, tudo se polariza: as coisas são ruins ou boas. Mas, a vida não é assim. Nosso mundo, nossa realidade têm os dois: o bom e o ruim, o feio e o belo, a euforia e a depressão convivendo lado a lado, todos os dias em nosso entorno e, dentro de nós.

Vocês devem estar pensando: “aonde ele quer chegar com isso?”. Já explico: hoje, quando pensamos no mundo corporativo, na maior parte das vezes, as referências que vêm à cabeça são: burnout; racional sim, emoção fica em casa; competição e assim por diante! Ou seja, referências negativas, carregadas de um peso que nos empurram para fora , como se aspirando secretamente – porque não se pode falar isso em voz alta – à aposentadoria ou a uma mudança de carreira, mesmo quando amamos o que fazemos. Vamos lá, quem nunca voltou de umas férias em Porto Seguro ou Parati sem pensar em liquidar tudo e abrir uma pousada ou um restaurante no litoral? Só eu? Ainda me lembro de uma ocasião, como Diretor de FP&A nos Estados Unidos, durante um fechamento de trimestre hiper duro no meio da crise de 2008, onde me peguei olhando pela janela do CFO para aquele gramado lindo sendo tratado por uma equipe de jardineiros e pensando “eu trocaria de lugar com aquele cara sem pensar muito”. O engraçado é que o CFO leu meus pensamentos e disse: “É, dá vontade de ir lá para fora, não?”. Caímos na risada e seguimos a vida!

Ou seja, o mundo corporativo tem pressão por resultados, tem muitos(as) loucos(as) operando, tem perseguição, momentos de estresse. Tem tudo isso, mas não só isso! Por outro lado, fiz vários amigos nas empresas e países por onde passei, conheci muita gente ética, inspiradora, tive líderes que me fizeram crescer e convivi em estruturas que foram o meu socorro quando mais precisei, me estendendo uma mão generosa e acolhedora. Lembro-me quando tive meu primeiro episódio de depressão – sem saber que era depressão – expatriado na Itália. Decidi voltar para o Brasil antes do fim da minha expatriação. Não havia uma posição aqui para mim, a empresa se mexeu para me receber de volta num lugar digno, onde consegui agregar valor e recuperar meu equilíbrio e carreira. Eles não precisavam fazer isso, mas fizeram e sou muito grato à empresa e aos líderes da época. Até minha família formou-se nesse meio. Afinal, foi neste mundo que encontrei minha esposa, Arlete Amoroso.

Volto ao Mike Duncan: nada é binário e têm muitas coisas boas afora, sobre as quais podemos construir e transformar. Na realidade, as pessoas anseiam por isso e querem um ambiente mais humano, leve, colaborativo e inspirador. O que nos segura? Já sabem a resposta: nós mesmos! Imaginem se, de fato, fizermos essa transformação em larga escala, até onde podem reverberar as ondas de generosidade, compreensão, amizade e acolhimento? Quantos talentos que se perdem pelo caminho florescerão? As possibilidades e oportunidades crescem exponencialmente. Não dá para desistir!

No fim do dia, a empresa não é um contrato social arquivado na Junta Comercial, nem uma folhinha de CNPJ e nem mesmo um amontoado de máquinas ou uma “sede própria”. Apesar de nossos líderes se esforçarem genuinamente em definir visões, missões, valores e treinamentos sobre cultura organizacional, quem de fato a constrói somos nós no dia a dia. Ou seja, o poder de transformar é nosso, indelegável. Precisamos parar de reclamar, de terceirizar a culpa. Na travessia da ponte, o primeiro passo é nosso:

• Entre no trabalho como se estivesse chegando em casa, porque está;

• Cumprimente a todos, sem economia. Todos: Presidente, VP, Gerente, Recepcionista, Profissionais da limpeza;

• Trate a todos igualmente, pois, no final, somos todos feitos do mesmo tecido;

• Pare para um café, brinque;

• Se alguém precisa falar com você, pare, escute, dê atenção plena;

• Entre nas reuniões não com vontade de vencer, mas querendo trocar, aprender;

• Ouça, mude de opinião se topar com algo que não havia considerado. Se alguém te achar fraco por isso, saiba que quem tem um problema é ele ou ela, não você.

Busque sempre a sua essência e não se desvie dela. Seja fiel a você mesmo(a) sempre. Acredite, quem está à sua volta irá notar isso e se encorajar para fazer o mesmo. , a verdadeira inclusão acontece. Uma maratona completa-se passo por passo… E digo por experiência própria!

Por fim, deixo um pensamento do Nelson Mandela, livremente traduzido aqui, cuja “Longa Caminhada até a Liberdade” mostra uma vida inimaginavelmente difícil, capaz de endurecer o coração mais generoso. E, ainda assim, ele optou pelo amor, esperança, otimismo, perseverança e, especialmente, protagonismo: “Que as suas escolhas possam refletir suas esperanças e não os seus medos”.

Forte abraço e até a próxima!

Arthur Azevedo

Finance Career Mentor

Arthur Azevedo tem 34 anos de experiência na área de Finanças, tendo ocupado posições de liderança e gestão de pessoas nos últimos 27 e atuado como CFO por 11 anos. Trabalhou em várias localidades, incluindo Brasil, Estados Unidos e Europa. Atuou como CFO Global da Embraco, CFO Latam da Whirlpool Corporation e CFO Brasil da Transpetro, Cacau Show, Brasil Brokers e Tecumseh. É formado em Administração de Empresas pela Fundação Mineira de Educação e Cultura, com MBA pela Business School São Paulo com certificado como conselheiro pelo INSEAD (França e Singapura) e IBGC. É fundador da Arthur Azevedo Consultoria de Gestão & Mentoria. É casado, pai de dois filhos e apaixonado por corridas de rua.