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Segundo a pesquisa “O Perfil do CFO no Brasil 2021”, da Assetz em parceria com o Insper, uma das prioridades para o líder de Finanças nos próximos anos é a sua adaptação à gestão de equipe à distância. Isso se dá principalmente devido à ascensão do modelo híbrido de trabalho dentro das organizações, que passam a optar por uma rotina profissional mais flexível e adaptável às necessidades de cada colaborador. No que diz respeito à área financeira, se por um lado esse novo modelo oferece vantagens, por outro, há alguns pontos de atenção e uma série de cuidados necessários para que seja eficiente e eficaz.

De acordo com os dados de uma pesquisa realizada pela Nespresso Professional que contou com mais de 600 funcionários, líderes e gestores de Recursos Humanos, 83% dos participantes relataram que o modelo híbrido é o ideal para a manutenção da saúde mental e do bem-estar dos Executivos. Entre as principais vantagens apontadas, estão a de não enfrentar o trânsito no percurso de ida e volta do trabalho, a possibilidade de passar mais tempo com a família e a maior flexibilidade de horários, o que permite a realização de outras atividades, como exercícios físicos e cursos de especialização em horários alternativos. Em adição a isso, o modelo híbrido também facilita a interação entre times locais, regionais e globais, haja vista que as equipes de outras localidades passam a estar mais envolvidas com as decisões e as rotinas da matriz através de reuniões virtuais recorrentes.

Em contrapartida, 41% dos Executivos entrevistados pela pesquisa da Nespresso Professional afirmaram que o home-office foi prejudicial para a saúde mental e o bem-estar dos profissionais, principalmente em decorrência da falta de interação entre os colaboradores, da dificuldade de comunicação efetiva entre os membros do time e de um contato menos profundo com a cultura e os valores da companhia, especialmente quando se trata de profissionais recém-contratados. Assim, nota-se que a adoção de longos períodos de home-office dificulta a retenção de profissionais e reduz o nível de engajamento do time, uma vez que o vínculo criado por grande parte dos Executivos junto à organização e aos membros da equipe pode se tornar mais superficial. Outro tema desafiador está ligado às práticas de desenvolvimento de pessoas durante o trabalho em home-office, já que a atuação in loco contribui para o aprimoramento de diversas habilidades comportamentais, como a negociação, a criação de alianças, o poder de influência e a gestão de conflitos.

Entre benefícios e desvantagens, a adesão do modelo híbrido de trabalho torna-se cada vez mais realidade em grande parte das companhias e exige adaptações tanto por parte dos líderes, quanto das próprias organizações. A realização de checkpoints periódicos a fim de determinar os entregáveis e o resultado esperado, a definição de um limite de reuniões para que haja tempo o suficiente destinado ao cumprimento de tarefas e ao bem-estar do funcionário e o agendamento de encontros presenciais com toda a equipe para uma interação mais próxima e um melhor alinhamento com os líderes diretos são ações que tornam o modelo híbrido mais produtivo para os profissionais de Finanças. Para tanto, faz-se necessário um investimento por parte da organização em escritórios adaptados e modernos, que ofereçam maior conforto e flexibilidade aos colaboradores e facilitem, ao menos algumas vezes por semana, a interação presencial no ambiente corporativo. Por sua vez, é fundamental que os gestores dediquem um maior tempo de suas agendas à criação e à manutenção de um canal ágil e direto de comunicação com os seus liderados e ao desenvolvimento do time, seja através de reuniões one-on-one ou com o time todo.

Assim, a fim de entender as vantagens e desvantagens do modelo híbrido de trabalho na área de Finanças e as ações necessárias para se adaptar ao home-office, convidamos três Executivos financeiros para compartilharem suas perspectivas e vivências em relação ao tema.

Denis Junqueira

CFO | Capgemini

Paula Paulino

Executiva de Finanças e associada da W-CFO Brazil

Rogério Martello

CFO LATAM e VP de Finanças | Schneider Electric

Na sua opinião, quais são as maiores vantagens que o modelo híbrido de trabalho oferece especificamente aos profissionais financeiros e à área de Finanças de modo geral?

Denis Junqueira: A grande vantagem que venho percebendo do trabalho híbrido é a performance e felicidade dos colaboradores. Muitas pessoas do time declaram abertamente que se tornaram mais felizes e produtivas trabalhando em casa, que não perdem tempo no translado até o trabalho e que estão mais próximas da família. Em adição a isso, o modelo híbrido, além de reduzir os custos da companhia, tem sido um atrativo para a atração e retenção de talentos, que estão, em sua maioria, buscando oportunidades nesse modelo.

Paula Paulino: Existem várias vantagens no modelo híbrido de trabalho e, entre elas, eu destaco:

• Aproximação das equipes, principalmente das que estão localizadas em outras cidades/países. Isso pode parecer estranho, mas, quando temos equipes em diversas localidades, a tendência é dos profissionais mais distantes não participarem tanto da dinâmica do dia a dia e serem “lembrados” somente quando visitam a Matriz/Escritório principal. Dessa forma, quando temos a oportunidades de utilizar meios de comunicação que permitam a maior inclusão dessas pessoas nas reuniões e discussões do dia a dia, há o aumento da interação e integração dessas equipes e no quanto elas podem contribuir e colaborar entre si;

• Possibilidade de contratação de talentos e/ou profissionais especializados que residem em outros lugares, mas que não tem interesse ou não podem se mudar. Nesse sentido, temos uma expansão do leque de bons profissionais que podem ser contratados, contribuindo para uma maior diversidade de experiências e conhecimento, fator muito importante principalmente para a área de Finanças. Aqui dou o meu próprio exemplo: moro em Belo Horizonte e não tenho disponibilidade para me mudar. Com o modelo híbrido, foi possível aceitar uma oportunidade em uma empresa de São Paulo, na qual eu ficava três dias no escritório e, nos outros dois, trabalhava remoto em Belo Horizonte. Sem o home-office, essa situação não seria possível, principalmente pelo fato de ser esposa e mãe de duas meninas pequenas e ficar a semana toda fora. Nesse momento de vida, não era minha opção;

• Otimização de tempo que seria gasto com deslocamentos e interrupções desnecessárias, principalmente em épocas de maior demanda como fechamentos contábeis, novas operações ou entrega de relatórios. Consequentemente, há um aumento das entregas e menor desgaste físico e mental dos profissionais por não terem que se preocupar com trânsito, logística, que roupa vestir etc. Além disso, o tempo que seria gasto com deslocamentos pode ser aproveitado com a família ou com outras atividades de escolha do colaborador, resultando em maior bem-estar e um melhor clima de trabalho. Eu particularmente acredito que o modelo híbrido é muito positivo para as mulheres em razão da flexibilidade que ele permite, contribuindo em muito para a dupla jornada que muitas de nós possuímos.

Rogério Martello: Sem dúvidas, o tempo que deixamos de perder no trânsito, ao trabalhar de casa, nos dá a flexibilidade de manter uma rotina mais saudável de exercícios, alimentação, educação, além de um período de mais qualidade com a família. Além disso, em muitos casos, o deslocamento é exaustivo, consumindo a energia e felicidade das pessoas, o que impacta na produtividade.

Mencionei a educação, pois não só o trabalho pode ser feito de casa, mas a oferta de cursos e eventos on-line cresceu muito. Com isso, é possível ter acesso a muito mais conteúdo por um melhor preço e de forma remota.

E quais são os principais desafios e desvantagens?

Denis Junqueira: Na minha opinião, um dos maiores desafios que o modelo híbrido trouxe foi o de manutenção da cultura do time. Para suprir o fato de não estarmos no mesmo ambiente, onde interagíamos constantemente, trocávamos informações sem necessidade de agendar um horário, nos aproximávamos dos colegas durante um café, temos agora que marcar reuniões on-line mais constantes, investir em um escritório (mesmo que menor) mais atraente para fomentar eventuais reuniões/brainstormings presenciais, além de buscar novas tecnologias para aproximar as pessoas e otimizar processos organizacionais.

Paula Paulino: O principal desafio para a adoção do modelo híbrido é a mudança da cultura de comando/controle para a de confiança/entrega. Para que o home-office funcione, o foco do líder tem que ser na produtividade e eficiência e não na folha de ponto do colaborador.

Outra questão enfrentada por esse modelo de trabalho é conseguir a sinergia entre os colaboradores presenciais e os que estão remotos, pois, muitas vezes, quem está no escritório acaba se reunindo ou interagindo com quem está lá e não envolve os que estão trabalhando home-office. Adicionalmente, várias pessoas encontram-se atualmente frustradas de ter de participar de uma reunião virtual mesmo estando presencial no escritório, o que dificulta no processo de integração, colaboração e motivação do time.

Rogério Martello: Também há muitos desafios, não são todos que podem ter um espaço de qualidade em casa para trabalhar o dia todo. As crianças, e até mesmo os companheiros, nem sempre entendem que, apesar de estar em casa, é preciso estar concentrado no seu trabalho. Entendo que a comunicação entre os colaboradores e o engajamento pode ser contornado com muita eficiência se aplicados no modelo híbrido e não 100% home-office, especialmente entre os profissionais mais experientes, ainda que haja pouco tempo na companhia. No entanto, até mesmo a exposição mais reduzida, já que nos encontramos muito menos de forma ocasional e há o menor contato presencial com a organização, afeta consideravelmente a integração e aprendizado tácito dos mais jovens em muitas companhias. Creio que esse assunto deve ser o foco, já que são eles os responsáveis por definir o futuro das organizações.

No seu ponto de vista, qual é o modelo ideal de trabalho híbrido e quais são as melhores práticas que devem ser adotadas pelas empresas e principalmente pelos gestores da área de Finanças a fim de se adequarem a esse novo modelo de trabalho?

Denis Junqueira: Acho que cada empresa e gestor deve identificar seu modelo ideal, ou seja, aquele que se adeque melhor ao seu time. Para o time financeiro da Capgemini, nos encontramos atualmente uma vez por mês no escritório (devemos evoluir para duas vezes em breve), sendo o resto do tempo remoto. Isso tem funcionado muito bem para nós. Como melhores práticas, pude perceber que ações como 1) one-on-one (1:1) e feedbacks frequentes, 2) reuniões semanais com as lideranças das áreas financeiras para alinhamento estratégico e 3) town halls meetings com o time todo tiveram bastante êxito em aproximar as pessoas e em compartilhar/cascatear informações, demandas e fortalecer a cultura.

Paula Paulino: Na minha opinião, o modelo híbrido com 3 dias no escritório é o ideal para atingir um bom equilíbrio entre o home-office e o trabalho presencial. Nesse caso, os dias no escritório devem ser focados nas interações (principalmente com outras equipes da empresa) e reuniões mais importantes.

Como melhores práticas eu indico:

• Deixar claro para todos na equipe que o home-office é um benefício e que ele é mantido enquanto as entregas forem feitas no prazo e as demandas forem atendidas conforme a expectativa acordada. Confiança, comunicação, comprometimento e responsabilidade são imprescindíveis para que o modelo híbrido e/ou remoto funcione;

• Saber em detalhe quais são as atividades, entregas e interações necessárias de todos os profissionais dos times, de forma a mapear quais são os cargos/atividades que: podem ficar 100% remotos, poderiam adotar o modelo híbrido e os que necessariamente precisam ficar no escritório;

• Definir quais serão as ferramentas para comunicação e orientar a melhor política/gestão para seu uso. Exemplo: se a comunicação será exclusivamente através dos recursos da empresa (Teams, Google Meet, Zoom etc.) ou se o uso do WhatsApp será permitido;

• Definir um tempo máximo de resposta e atendimento a demandas. Com a comunicação virtual, o volume e a sensação de urgência acabam aumentando e, nesse sentido, o gerenciamento das expectativas, através de SLAs e regras para priorização é crucial.

• Entender que no home-office é possível ter alguma flexibilidade de horário, mas definir um período em que todos obrigatoriamente estejam disponíveis simultaneamente.

Rogério Martello: Para mim, as tarefas mais operacionais, como reuniões para comunicação e compartilhamento de informação, reuniões mensais de performance e fechamento, são eventos que podem muito bem ser realizados de qualquer lugar, desde que a empresa disponha das ferramentas digitais adequadas. Entendo que o momento no escritório físico deve ser dedicado às discussões mais criativas, que requerem maior participação e interação entre as pessoas. E, além disso, o escritório deveria ser o momento de se encontrar, socializar e ser, justamente, a forma de engajar e disseminar a cultura da empresa. Então, penso que o maior tempo deveria ser em casa, eu gosto de trabalhar três dias de casa por semana e dois dias no escritório. No período que vou ao escritório, procuro manter a agenda o mais livre possível.

Como Executivo(a) de Finanças que vivencia o modelo híbrido na organização em que trabalha, quais dicas você daria para uma boa organização, priorização de tarefas e, ao mesmo tempo, equilíbrio entre vida pessoal e profissional para os profissionais financeiros que também estão experimentando o home-office?

Denis Junqueira: Para que o modelo híbrido funcione é necessário definir expectativas e estabelecer limites. Expectativas no sentindo de entregas/milestones, resultados, prazos, tudo muito bem combinado e alinhado entre os envolvidos e com acompanhamento das atividades (checkpoints) recorrentes. Já falando de limites, é preciso definir horários, paradas para almoço, coffee breaks e afins, além de travar a agenda, pois neste novo modelo qualquer tempo livre vira horário vago para reunião, para adiantar uma atividade, dificultando o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional dado que a linha entre ambas está cada vez mais tênue.

Paula Paulino: Após trabalhar mais de 9 anos com modelo híbrido e remoto, além de ter equipes distribuídas em diversas localidades, as dicas que eu tenho são:

• Escolher qual ambiente da casa será o escritório e garantir uma estrutura física e tecnológica (principalmente Internet) que traga conforto e tranquilidade para trabalhar;

• Avaliar se os colaboradores também possuem um ambiente favorável dentro de suas casas e o quanto a empresa pode contribuir nesse aspecto;

• Combinar com a família sobre quais horários estará trabalhando e quais as situações em que poderá ser interrompido durante esse período;

• Trabalhar de casa é fácil perder a noção do tempo e trabalhar inclusive mais que no escritório. Por essa razão, estabelecer alguns limites de horário (de acordo com as demandas de cada período) será a peça-chave para contribuir para o equilíbrio entre vida pessoal e profissional;

• Aproveitar o período que estaria se deslocando para praticar alguma atividade física ou um hobby. Isso contribui para o bem-estar e, como consequência positiva, para a produtividade no trabalho;

• Ter um controle das demandas e uma comunicação regular com todos os níveis (superiores, pares e liderados) de forma a alinhar as prioridades e definir urgências;

• Estabelecer uma rotina de acompanhamento do status das atividades em andamento com os liderados, revendo a ordem de prioridade bem como os prazos das entregas. Essa rotina é crucial, pois numa área dinâmica e transacional como a Financeira, alterações são constantes e a comunicação é fundamental para que a equipe possa acompanhar e se adequar. Alinhamento prévio evita expectativas frustradas e tarefas desnecessárias;

Rogério Martello: A primeira palavra que me vem à cabeça é disciplina. Quando as pessoas deixam de ser controladas pela presença física, mas valorizam as entregas conduzidas por sua qualidade e pontualidade, o colaborador ganha mais flexibilidade para gerenciar o seu tempo. No entanto, isso requer disciplina, tanto do colaborador quanto dos gestores que não podem permitir excessos na carga horária.

Logo, a comunicação ganha ainda mais importância, tendo em vista que as conversas de corredor também eram meios eficientes de comunicação, ainda que informais. Agora, todos devem priorizar nas agendas os horários para se comunicarem, isso vale para os diferentes níveis dentro da organização.

Finalmente, outro ponto que destaco é o cuidado com a saúde mental. Trabalhar de casa não significa passar 12 horas por dia em frente ao computador, há de se definir horários e, novamente, ter disciplina. Muitos, como eu, não gostam de passar todos os dias sozinho, então, ir ao escritório algumas vezes por semana ou encontrar com os colegas em cafés e almoços pode fazer muito bem. Isso também vale para quem não sente a privacidade necessária em casa, por diversos motivos. Assim, sem dúvidas, a oportunidade de ter uma vida mais equilibrada em relação ao trabalho e à atividade física ajuda muito na boa saúde mental, bem como a comunicação de qualidade com colegas e líderes pode ajudar a detectar os sinais de estresse e tristeza excessivos. Creio que a organização, dando aos colaboradores opções e flexibilidade, no caso do trabalho híbrido, ajuda muito nesse quesito.