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Por valorizar a tecnicidade, a área de Finanças prioriza tanto a formação acadêmica, quanto a experiência profissional para o desenvolvimento da carreira, de forma que o Executivo necessita constantemente aperfeiçoar e atualizar os seus conhecimentos. Por esse motivo, em um determinado momento da trajetória profissional, muitos Executivos financeiros decidem cursar um MBA – Master in Business Administration – que, no geral, contribui significativamente para a evolução técnica e para o aprimoramento de competências comportamentais. Nos últimos anos, por conta de uma maior acessibilidade em um mundo globalizado e por apresentar oportunidades e benefícios únicos, a realização desse curso fora do país vem ganhando cada vez mais destaque.

No que diz respeito às competências técnicas, a forte interação com Executivos de diversos países e o contato com professores que são referências globais na área em que lecionam promovem uma rica troca de experiências e a prática de benchmarking com profissionais que vivenciaram realidades e desafios completamente distintos, o que amplia a visão sobre diferentes formas de se resolver problemas – dos financeiros aos de negócio – e possibilita um maior entendimento sobre como pensam e atuam Executivos de outras partes do mundo. Ademais, o MBA fora do país preza especialmente por aulas práticas e por uma postura mais proativa do aluno, que participa ativamente de discussões e análises de cases – simulações baseadas em casos reais -, demandando uma preparação prévia robusta e que facilita a fluência em um outro idioma, principalmente no que tange a uma linguagem mais técnica e corporativa. Com isso, para que essa experiência no exterior seja ainda mais expressiva para a trajetória profissional e potencialize o aprimoramento de capacidades técnicas, ao escolher a instituição de ensino, deve-se avaliar aspectos relevantes, tais como a grade geral do curso, a possibilidade de eleger matérias eletivas mais voltadas a temas financeiros e a identificação com a cultura da instituição. Especificamente para a área de Finanças, as melhores escolas estão localizadas nos Estados Unidos, Canadá e Europa.

Quanto ao desenvolvimento pessoal, um MBA internacional possibilita o aperfeiçoamento de uma série de habilidades comportamentais exigidas pelo mercado, como resiliência, empatia, adaptabilidade e empoderamento, dada a experiência de se viver em outro país e de lidar com diferenças culturais diariamente. Em adição a isso, proporciona ao Executivo financeiro a evolução da sua capacidade comunicativa, uma vez que é estimulada a exposição constante do seu ponto de vista, do trabalho em equipe e da visão de negócio. E, sobretudo, como já dito anteriormente, garante a expansão do seu networking, estabelecendo uma sólida rede de contatos com profissionais de diversas nacionalidades.

Entretanto, existem alguns desafios que devem ser considerados antes da decisão de cursar um MBA no exterior. Um deles é o alto investimento financeiro que essa especialização exige, tendo em vista os elevados tuition fees (gastos com a instituição de ensino para a realização do curso), somados ao custo de vida em outro país em moeda estrangeira. Também é importante levar em conta que o Executivo deverá parar de trabalhar por 1 a 2 anos, fazendo-se necessário, dessa forma, um bom planejamento das suas finanças pessoais a fim de equilibrar as despesas com a ausência de renda durante esse período. Outrossim, a distância física em relação aos membros da família também deve ser ponderada, já que isso pode afetá-los de algum modo de acordo com o momento de vida de cada um.

Por fim, as expectativas do Executivo de Finanças em relação às oportunidades e aos benefícios que o MBA fora do país pode proporcionar para a sua carreira devem ser muito realistas. Em curto prazo, o curso pode elevar o perfil do profissional financeiro e, por conseguinte, contribuir para uma possível promoção na empresa ou para chamar a atenção de outros empregadores. Enquanto em médio e longo prazos, essa formação é capaz de acelerar o amadurecimento de uma visão mais holística do negócio e o networking adquirido ser aproveitado para futuros passos na trajetória profissional. No entanto, é importante ter a consciência de que, no Brasil, determinados tipos de organizações ainda valorizam mais um MBA internacional no currículo do que outras. Fundos, bancos de investimento e consultorias estratégicas, por exemplo, dão maior relevância a essa formação em seus processos seletivos, quando comparados a companhias de setores mais tradicionais (como Indústria, Varejo, Serviços, Infraestrutura, entre outros), que tendem a dar mais valor às atividades e projetos que o Executivo desenvolveu e às empresas pelas quais ele passou. Não há uma regra, mas, no mercado de trabalho brasileiro, a apreciação de um MBA no exterior pelos recrutadores, em geral, ainda está em fase de maturação.

Dessa forma, a fim de compreender melhor os benefícios e desafios de se cursar um MBA em outro país, convidamos alguns Executivos financeiros que passaram por essa experiência para compartilharem suas perspectivas e vivências em relação ao tema.

Felipe Fonseca Pereira

Gestor de Private Equity e Sócio | DSK Capital

Tadeu Nunes

VP Financeiro e Controller Latam | Parker Hannifin

Quais são os principais fatores que o profissional de Finanças deve considerar para decidir se deve ou não cursar um MBA no exterior?

Felipe Fonseca Pereira: O MBA no exterior é uma oportunidade incrível, mas também envolve um grande custo de oportunidade, uma vez que, para morar um ou dois anos fora, temos que nos distanciar do trabalho, família e amigos.

O comprometimento financeiro também é muito grande, ainda mais com o câmbio da maneira que está. O profissional deve levar em consideração não somente o custo da faculdade, mas também o custo de vida fora e o dinheiro que deixará de receber ao longo do curso.

Realizar um MBA no exterior patrocinado pelo trabalho também é uma ótima oportunidade, porém gera um comprometimento com a empresa por mais alguns anos após o curso, e isso deve ser levado em conta. Contudo, a experiência é algo surpreendente em todos os aspectos. Como alunos, somos expostos a uma gama de novas experiências, conhecimentos e amigos de todo o mundo com suas culturas e vivências.

Tadeu Nunes: Em primeiro lugar, vale lembrar que há aspectos pessoais envolvidos nessa escolha, assim como em outras decisões de carreira. Importante considerar circunstâncias familiares e pessoais, pois estas podem ser um grande suporte ou um grande desafio para um projeto tão relevante quanto o MBA no exterior. Além disso, deve-se avaliar o momento na carreira e quais são os planos para o futuro: a educação sempre trará benefícios, mas como o MBA ajudará a pavimentar o caminho e, principalmente, o que se busca obter dessa experiência para estar mais bem preparado que os concorrentes? Finalmente, há de se levar em consideração a questão financeira, posto que os custos relacionados à realização do curso (tuition fees) e à permanência em outro país enquanto não se trabalha são elevados, o que é particularmente relevante se não houver suporte de um patrocinador. Felizmente, nos últimos anos cresceu a disponibilidade de alternativas de financiamento, tanto no Brasil, quanto nas próprias escolas, o que pode ajudar muito nessa frente.

Ao final, é importante avaliar os diversos aspectos que podem tornar uma experiência tão valiosa quanto um MBA fora do país mais ou menos efetiva, e como isso afeta cada profissional especificamente.

Sob o ponto de vista de maturidade, idade e tempo de experiência profissional, qual seria o momento ideal para se cursar um MBA em outro país?

Felipe Fonseca Pereira: Acredito que não existe momento ideal. Vejo a turma do MBA como uma grande arca de Noé: o importante é você ser capaz de se destacar e contribuir para essa turma. Algumas pessoas conseguem fazer isso muito cedo em suas carreiras, outras, demoram um pouco mais. Normalmente, o típico aluno de MBA internacional possui entre 27 e 32 anos.

Tadeu Nunes: O ponto de partida necessário é o autoconhecimento. Não acredito que haja uma resposta correta para todos, mas, em geral, alguns anos de experiência após a graduação ajudam a entender nossas preferências, aptidões, oportunidades de desenvolvimento e, principalmente, a começar a desenvolver um plano de carreira. A partir daí, definimos as possíveis estratégias para atingir nossos objetivos, incluindo os pessoais, e mapeamos quais ferramentas devem estar na caixa para ajudar na jornada. Este é o melhor momento não somente para tomar a decisão quanto ao MBA, mas também para priorizar escolhas em função da estrutura e foco do programa, conteúdo, capacidade financeira etc., e até a avaliação do escopo de colocação dos graduados pós-MBA. Ao final, cada profissional tem um momento ideal e o importante é entender o próprio – é uma grande empreitada, um grande investimento pessoal e que deve ajudar muito em nossa carreira e nosso futuro. Cabe a cada um de nós fazer valer ao máximo.

E vale lembrar, também, que há excelentes programas voltados a Executivos mais maduros: tipicamente, são mais generalistas e uma grande oportunidade no desenvolvimento de profissionais de Finanças mais experientes.

Quais são as escolas internacionais que são as principais referências em Finanças?

Felipe Fonseca Pereira: Sou Alumni de Columbia e confio muito na proposta de valor da minha escola para qualificar um profissional de Finanças, porém acredito que todas as Top10-Top20 do mundo farão um trabalho excepcional. Além de se preocupar com o ranking da escola, é muito importante se preocupar com o fit cultural e escolher a instituição com a qual você irá desenvolver um senso de pertencimento. Sem dúvida, sua experiência durante o MBA será muito melhor com isso.

Tadeu Nunes: As mais renomadas em Finanças estão nos Estados Unidos, mas há excelentes escolas também na Europa, por exemplo. Os vários rankings ajudam, mas é muito importante entender o estilo, foco, escopo de cada instituição e programa. Para algumas pessoas, a localização também é relevante. O ponto comum entre esses programas é que eles atraem talentos de diversas partes do mundo, pessoas com backgrounds e interesses distintos que ajudam a expandir nosso horizonte estratégico e profissional.

Além disso, há vários programas com escopo generalista em que a especialização em Finanças é buscada através de matérias eletivas e tracks. Fiz um desses programas, pois entendi que era o mais apropriado para minha situação – Duke University, Fuqua School of Business – e, ao longo do tempo, tem se provado uma escolha acertada. O networking global, incluindo setores diversos, é muito valioso.

Em relação às instituições, os nomes mais conhecidos são Penn (Wharton), Chicago (Booth), Columbia, NYU (Stern), Harvard, MIT (Sloan) e Duke (Fuqua), todas nos Estados Unidos. Na Europa, Oxford (Said), London Business School, HEC Paris, IESE Business School – Barcelona, IE Business School – Madrid e INSEAD. E há também boas escolas no Canadá, tais como Toronto (Rotman) e York (Schulich).

Na minha opinião, o ponto mais importante – mais do que escolher pelo nome ou ranking da escola – é entender o próprio programa (primariamente focado em Finanças, ou de escopo mais amplo, mas que permite a especialização), o tamanho e composição das classes (diversidade), localização e experiência que o MBA e a escola podem proporcionar. Contudo, vale mesmo o critério de cada um.

De modo geral, como um profissional da área financeira que cursou um MBA fora do país pode se destacar frente a outro que não possui essa experiência?

Felipe Fonseca Pereira: Cursar um MBA no exterior não é algo simples, pois envolve muita dedicação para o estudo do GMAT, um currículo de destaque e, também, uma ambição de desenvolver uma carreira de destaque. Inevitavelmente, esse perfil é extremamente apreciado nas empresas para posições estratégicas.

Além disso, um MBA internacional nos desenvolve não só do ponto de vista técnico, mas também em relação às competências comportamentais, valiosas para posições de liderança de pessoas.

Por último, o networking dos Alumnis dessas escolas é muito poderoso e, se bem utilizado, vai gerar dividendos ao longo de toda a carreira desses profissionais.

Tadeu Nunes: Entendo que começa pela flexibilidade. Afinal, adaptar-se a um novo país, nova cultura, regras legais, ritmo de vida nos torna adaptáveis. A sensibilidade a questões globais e o entendimento de outras perspectivas sobre temas diversos, muitas vezes tratados com viés regional, ajudam a nos colocar na posição do outro, o que nos torna mais efetivos na resolução de problemas complexos. A rede de contatos de diferentes nacionalidades, com diferentes backgrounds tanto em termos de negócios, quanto culturais também oferece a oportunidade de insights variados e culturalmente calibrados. A formação técnica de boa qualidade e o acesso a tecnologias, métodos e estudos de ponta tornam o profissional mais qualificado. Ao mesmo tempo, um senso mais apurado de competitividade e da necessidade de capacitação, bem como oportunidades de desenvolvimento, inclusive para nosso país, completam um perfil Executivo mais capacitado para competir e vencer nos negócios de forma globalizada.

Não poderia deixar de comentar que, em boa parte, esses aspectos podem também ser desenvolvidos através de uma carreira internacional e independente do MBA, uma vez que as oportunidades são crescentes com as estruturas de negócios atuais. Talvez, a vantagem do MBA (especialmente os programas em tempo integral) seja colocar prioridade no desenvolvimento e formação da pessoa, assim como um treino esportivo de um atleta de alta performance.

Pensando em curto, médio e longo prazos, quais são os principais benefícios trazidos por um MBA no exterior para o desenvolvimento e evolução da carreira em Finanças?

Felipe Fonseca Pereira: Curto prazo: Eleva seu perfil para novos empregadores e permite, de maneira mais fácil, uma mudança de carreira e de área de atuação.

Médio prazo: Acredito fortemente que profissionais com MBA no exterior tendem a performar melhor no trabalho, destacando-se em relação aos demais Executivos.

Longo prazo: O networking entre Alumni dessas escolas irá gerar oportunidades ao longo de toda sua carreira.

Tadeu Nunes: No curto prazo, acredito que as principais vantagens competitivas sejam o badge, o autoconhecimento, confiança e flexibilidade adquiridos na adaptação diária às situações a que se está exposto. Além disso, a multiculturalidade e as oportunidades de carreira internacional, assim como o domínio da língua estrangeira também completam um perfil profissional mais atrativo.

No médio e longo prazo, a maturidade profissional, possivelmente acelerada e somada às experiências mencionadas acima, tende a oferecer ao profissional um leque de opções mais completo e elaborado para resolução de problemas dos negócios. Em adição a isso, a rede de contatos e perspectiva internacional tornam-se mais e mais valiosas conforme nossas carreiras avançam. Portanto, é muito importante cultivá-las ao longo do tempo.

Finalmente, vale lembrar que o MBA é uma etapa num processo de desenvolvimento. Cabe a nós fazer disso, bem como de outras oportunidades de desenvolvimento e carreira, algo relevante para nós mesmos e para aqueles que estão a nossa volta. Isso inclui, embora não exclusivamente, nossos empregadores ou associados, quando somos empresários ou empreendedores. Envolve, também, nossas famílias, comunidades, colegas e todos aqueles que precisam de algum suporte ou para quem podemos fazer a diferença.