Artigos

Diante da mudança no perfil do profissional de Finanças de diferentes níveis hierárquicos, os CFOs de grandes empresas têm ampliado seu leque de reivindicações na hora de contratar e até mudado suas prioridades, buscando, cada vez mais, habilidades que transcendam as já sedimentadas na área, como o domínio dos números.

De acordo com a pesquisa O Perfil do CFO no Brasil 2023, as habilidades mais valorizadas pelos CFOs ao contratar profissionais para suas equipes são “resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade”, mencionadas por 24% dos entrevistados. Logo após, seguem-se “foco no cliente e visão de negócio” (12%) e “resolução de problemas complexos” (11%).

Para Carla Santello, CFO América Latina da Kellanova, as habilidades comportamentais mais importantes buscadas em um profissional no mercado podem ser traduzidas em capacidade de gerenciar situações de alta complexidade, além de habilidades analíticas, que são necessárias para tomar decisões com base em dados, reconhecer tendências e avaliar riscos internos e externos. Porém, na ausência de todos os dados, o financeiro também precisa ter a capacidade de tomar decisões assertivas e na velocidade adequada com as informações disponíveis.

 Segundo Santello, “as responsabilidades de Finanças vão muito além dos números. O profissional da área é um parceiro de negócios que precisa saber navegar na complexidade de um ambiente matricial e multidisciplinar. Da mesma forma, tem que desenvolver relacionamentos que facilitem essa navegação dentro da empresa para ter a visão do todo, além de influenciar, de forma efetiva, todos os níveis organizacionais”.

De maneira geral, a executiva diz que a busca por profissionais abrange um aspecto central, que pode ser resumido na expressão inglesa accountability. Ela afirma procurar “pessoas que entendam que são parte de um processo muito maior do que sua função e que são responsáveis pelo que fazem e pelo todo, não só pelo ‘seu pedaço’”.

Conhecimentos técnicos

O executivo de Finanças precisa saber liderar um planejamento estratégico e, para isso, é fundamental conhecer o negócio em que atua, além de entender de contabilidade. Para Santello, quem trabalha na área financeira precisa conhecer o negócio tão bem quanto a equipe Comercial e buscar aprofundar o seu conhecimento contábil, que é essencial para garantir os controles financeiros, a conformidade com regulamentos internos e externos e a conexão entre resultado financeiro e geração de caixa.

CFO e Diretor de Relações com Investidores da Copasa, Carlos Augusto Berto menciona o conhecimento sobre impostos como outro diferencial técnico. Estar atento e atualizado sobre mudanças na legislação tributária poderá gerar compensação de tributos para a empresa e reconhecimento para o profissional, uma vez que entender se o que foi recolhido está de acordo com a legislação vigente ou não pode proporcionar ganho de caixa. Além disso, Berto também acredita que o conhecimento sobre mercado de capitais é essencial para encontrar alternativas de investimentos. Para ele, buscar a redução de custos e alinhar o fluxo de caixa com as melhores taxas e prazos são grandes desafios.

Para Alexandre Palhares, CFO da Eurofarma, o mais importante é que o profissional de Finanças consiga entender os impactos que as ações da área geram na companhia, não apenas da perspectiva financeira, mas de modo mais amplo, pois acredita que, além de ser boa, a operação precisa ser percebida como boa também por quem não é especialista.

Seleção e integração

Apesar das dificuldades em encontrar profissionais com alto nível técnico e capazes de ter uma visão mais profunda do negócio, o principal desafio dos executivos de Finanças na hora de contratar é entender se, de fato, o candidato se identifica com os valores da empresa e da área.

Porém, para Palhares, há formas de fazer essa análise no próprio processo seletivo, abordando, na entrevista, situações do dia a dia a fim de identificar as experiências passadas do entrevistado ou até mesmo pedindo que algum colega de outra área, que tenha bastante aderência à cultura da empresa, faça um bate-papo com o ele. Mas, sobretudo, para selecionar os profissionais para sua equipe, ele prioriza a busca por referências no mercado.

Para Berto, da Copasa, a empresa pode criar um banco interno de sucessão e/ou de talentos que facilitará a formação de uma base de candidatos já pré-selecionados e com o perfil desejado. Ele afirma que manter o contato com headhunters, construir networking e aproximar-se de associações ligadas a profissionais da área também faz toda a diferença nesse processo.

Na Kellanova, ao menos três líderes de Finanças entrevistam o candidato, todos seguindo os critérios de avaliação por competência. Ao final, junto com a equipe de Recursos Humanos, os executivos compartilham suas percepções e definem o melhor candidato. Santello também afirma que, durante a entrevista, tentam deixar muito claro qual é o escopo da posição e o momento da empresa para que as expectativas sejam alinhadas.

Depois da escolha do candidato, o trabalho não acabou. A CFO da Kellanova menciona que, na companhia, é feito um processo de integração que envolve a transmissão da visão geral da empresa: são discutidos processos-chave e são feitas reuniões individuais com a pessoa contratada e os líderes-chave da organização para que ela entenda a estratégia da empresa e qual a contribuição da área em questão.

Ademais, a executiva aconselha que seria ideal designar alguém como par do profissional contratado para que o ajude diariamente na adaptação à empresa. Ela ressalta, ainda, a importância da condução diligente do processo de integração, o que possibilitaria uma geração de valor muito mais rápida para a área.

Palhares, da Eurofarma, diz que a primeira coisa a ser feita é um mergulho junto com os times parceiros (pares e colegas de outras áreas), inclusive, inserindo o profissional em projetos novos e o desenvolvendo. Ele acredita que esse método seja uma boa forma de integrar rapidamente as áreas com as quais o profissional terá pouca interação no dia a dia.

ALEXANDRE PALHARES

CFO | Eurofarma

CARLA SANTELLO

CFO América Latina | Kellanova

CARLOS AUGUSTO BERTO

CFO e Diretor de Relações com Investidores | Copasa