Enquanto a busca por novas tecnologias impulsiona a expansão de investimentos, a área financeira procura evitar excessos nos gastos. Neste cenário aparentemente conflituoso, a cooperação entre Finanças e Tecnologia pode, na verdade, representar uma aliança estratégica vital para as empresas em meio à revolução tecnológica, uma vez que o desenvolvimento de soluções inovadoras pode ser crucial para a sobrevivência das organizações.
De acordo com a pesquisa “O Perfil do CFO no Brasil 2023”, conduzida pela Assetz em parceria com o Insper, 34% dos executivos financeiros já reconhecem o desenvolvimento tecnológico como de alta importância, atribuindo uma média de 7,8 pontos de prioridade numa escala de 0 a 10.
A segurança cibernética destaca-se como a principal preocupação, sendo uma prioridade para 58% dos entrevistados. Esse dado reflete a compreensão dos CFOs de que investir em tecnologia é, acima de tudo, uma questão de segurança e, portanto, de sobrevivência, dada a potencial repercussão financeira e de imagem que vazamentos de dados podem acarretar.
Alex Tosetto, Vice-Presidente Executivo e CIO para Américas da CEVA Logistics, reconhece os atritos comuns entre Tecnologia e Finanças, especialmente em empresas nacionais, em que a disputa entre a expansão de investimentos e o controle de custos é acirrada.
No entanto, ele destaca que as discordâncias muitas vezes são superadas quando as soluções tecnológicas apresentam rapidamente retorno sobre o investimento (ROI), pagando-se a si mesmas e subsidiando outras tecnologias.
Para garantir que um projeto seja desenvolvido até o fim, os CFOs devem adotar uma abordagem cuidadosa ao receber propostas da área de Tecnologia. Thiago Tavares, CFO do Grupo NC, destaca alguns passos essenciais:
– Entendimento detalhado dos projetos e análise crítica antes de iniciar um projeto
– Avaliação de riscos envolvidos e determinação de até onde a empresa pode suportá-los
– Identificação de carências do projeto de forma estratégica
– Definição de retornos financeiros esperados
Seguir esses passos é crucial para garantir o desenvolvimento bem-sucedido de um projeto, evitando interrupções no meio do caminho, segundo Thiago.
Caroline Pepe, CFO e IRO da Mills, alerta que se a área de Finanças inviabilizar projetos promissores devido a um excessivo medo de assumir riscos, essa falta de apoio pode resultar em custos ainda maiores, especialmente para empresas em crescimento.
Ela destaca a importância de recentes iniciativas de transformação digital na Mills, que fortaleceram processos internos e introduziram ferramentas como o Portal do Cliente e a calculadora de emissões de CO2.
Já Thiago discorda da ideia de um desacordo tácito entre Tecnologia e Finanças, argumentando que tal afastamento só ocorre quando profissionais incentivam essa atitude, prejudicando a empresa como um todo. Enfatiza, ainda, que o investimento em tecnologia é fundamental para o crescimento de qualquer negócio e defende a análise conjunta do CFO e CTO/CIO para garantir decisões alinhadas aos objetivos da empresa.
Papel estratégico de Finanças e do CFO
Quando a área de Finanças assume um papel estratégico, a colaboração com a Tecnologia torna-se mais fácil e direcionada, impulsionando tanto a inovação quanto as tecnologias convencionais. Nesse cenário, o CFO desempenha um papel semelhante ao do CIO, segundo Tosetto. Ele destaca a importância da transparência e da colaboração entre essas áreas para facilitar a tomada de decisões relacionadas a tecnologia e inovação.
Alex Tosetto ressalta que o CFO, ao controlar o faturamento e os lucros, age como um elo entre áreas distintas, integrando iniciativas de diferentes departamentos e tomando decisões alinhadas com as necessidades da empresa.
Essa relação não deve se limitar aos líderes, mas deve ser disseminada entre os colaboradores, pois a inovação muitas vezes exige a capacidade de falhar rapidamente para aprender e ajustar estratégias.
Para dar suporte integral à jornada de inovação, os CFOs devem analisar a viabilidade financeira dos projetos, os custos de implementação, os benefícios esperados, os riscos associados e o retorno sobre o investimento. Caroline Pepe, da Mills, sugere que cada investimento seja analisado individualmente, considerando o retorno financeiro, a aderência à estratégia de longo prazo e o impacto na satisfação dos clientes.
Também na Mills, Caroline (CFO) e a CTO/CIO Tatiana Medina colaboram na tomada de decisões sobre a alocação de recursos, o dimensionamento adequado dos projetos e a mitigação de riscos financeiros. Caroline destaca a liderança conjunta para promover uma cultura colaborativa, aberta e receptiva à reinvenção.
Em síntese, a interseção entre Finanças e Tecnologia representa uma aliança estratégica fundamental para o sucesso empresarial. A colaboração transparente entre CFOs e CTOs/CIOs, aliada a uma abordagem criteriosa na recepção de projetos de Tecnologia, pode resultar em inovações que impulsionam o crescimento e a eficiência, garantindo a sobrevivência e a prosperidade das empresas em tempos de transformação tecnológica acelerada.