Domínio das projeções e do acompanhamento dos números e capacidade para lidar com momentos de grande pressão. Essas duas qualidades são dominadas por grande parte dos Executivos Financeiros, é o que aponta a pesquisa O Perfil do CFO no Brasil 2022, desenvolvida pela Assetz em parceria com o Insper.
O estudo revela que 27% dos Diretores dessa área dizem ter o planejamento financeiro como maior habilidade técnica e 21% garantem ter grande tolerância ao estresse como maior atributo comportamental. Essas são as qualidades mais ressaltadas por quem comanda as áreas de Finanças de grandes empresas.
Porém, os líderes que querem trocar o “F” de Financial pelo “E” de Executive e chegar ao posto máximo de uma organização precisam acrescentar algumas outras habilidades ao seu rol. Executivos que já traçaram esse caminho, passando de CFO para CEO, afirmam que as competências responsáveis por levar o profissional até o topo da hierarquia são, principalmente, comportamentais e tratam basicamente da capacidade de engajar liderados ou pares de outras áreas em torno das necessidades da empresa.
A gestão de pessoas é essencial para o Executivo de Finanças que almeja chegar à presidência. Um líder eficaz facilita a vida da equipe e busca engajar os colaboradores, oferecendo meios para que cumpram suas tarefas. O papel de um bom CEO, além de orientar, é servir.
Um dos atributos fundamentais para orientar e servir é a capacidade de liderar e influenciar. Na pesquisa da Assetz em parceria com o Insper, essas qualidades comportamentais são as mais desenvolvidas para 18% dos entrevistados, perdendo apenas para resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade, questões dominadas por 27% dos respondentes.
Os números mostram que boa parte dos CFOs entende que estão preparados para liderar suas equipes, mas, quando o desafio envolve resolução de conflitos entre diferentes áreas — algo muito exigido de um CEO —, o cenário pode ser mais complicado. Apenas 7% dos Diretores Executivos dizem ter persuasão, argumentação e negociação como principais habilidades comportamentais.
Mas, antes de aprender a negociar e a reduzir os atritos entre as áreas, é necessário ter uma visão precisa do todo da empresa. A visão holística permite apresentar soluções que contemplem as diferentes demandas entre as áreas. O mais importante é o profissional, com as habilidades de CFO, conectar os diferentes pontos dentro da companhia. A partir daí, é possível participar mais do negócio e isso tende a transformar naturalmente o Diretor Financeiro em um candidato a CEO.
Duas outras qualidades comportamentais fundamentais são poder de comunicação e empatia. A área financeira é parte integrante do time, não adversária. Os times precisam ser parceiros dos negócios. Entretanto, essa missão de fazer de Finanças uma força agregadora dentro da companhia ainda parece ser um grande desafio.
A pesquisa O Perfil do CFO no Brasil 2022 mostra que 34% dos entrevistados têm como principal desafio relacionado à área financeira implementar um olhar mais voltado ao negócio, que dê suporte às demais áreas. Segundo a pesquisa, esse é o principal objetivo dos Executivos Financeiros, seguido por reestruturar processos e políticas, gap apontado por 18% dos entrevistados. Para entender o negócio, o CFO precisa sair do conforto do seu departamento, saber o que acontece no cotidiano da operação e o que realmente incentiva as pessoas a trabalharem pelo melhor da organização.
As pessoas são motivadas por incentivos e, para compreendê-los, é necessário conhecer a base. Participar da operação é extremamente útil quando o CFO precisa apoiar o CEO em tomadas de decisão ou tomar decisões por si próprio. No setor de serviços, é um diferencial estar presente no campo e passar tempo com os profissionais de instalação, manutenção e vendas para entender os desafios diários e as soluções desenvolvidas pelas equipes. Essa abordagem é fundamental e ajuda o CFO a ser reconhecido como uma liderança, inclusive como possível substituto do CEO.
Para além das habilidades comportamentais, o domínio técnico é fundamental para que o CFO avance para o próximo nível na hierarquia da empresa. Todo CFO deve conhecer indicadores financeiros, de retorno e de risco, finanças corporativas e todas as ferramentas de avaliação de projeto. Isso é relevante para crescer dentro da companhia.
O aprimoramento técnico deve ser uma constante. É preciso estudar o tempo todo, pois o mercado se desenvolve e se modifica a cada dia. O CFO é o grande gerenciador de risco de uma organização, então, precisa estar atento às técnicas de identificação e de mitigação de riscos para proteger a empresa.
As competências técnicas do CFO são essenciais para tomar decisões complexas de forma ágil, como a abertura e o fechamento de negócios, pois a análise da viabilidade financeira faz parte de sua rotina. Essa capacidade analítica é incorporada ao dia a dia do CFO, sendo aplicada constantemente, até mesmo de modo inconsciente.
Por mais estudioso e experiente que o CFO possa ser, sempre haverá questões técnicas que ele não dominará, principalmente as relacionadas a outras áreas do negócio. Para que isso não seja um empecilho, o Executivo de Finanças deve contar com o know-how dos seus pares. Um dos gargalos identificados pelo estudo da Assetz em parceria com o Insper foi a dificuldade do CFO em desenvolver novos negócios: apenas 1% diz ter esta como uma das principais qualidades. E, em tempos de mudanças constantes no mercado, sucumbir à mesmice pode ser fatal para uma empresa.
A saída para o CFO no caminho da presidência pode ser recorrer ao ímpeto inovador que outras áreas apresentam com mais desenvoltura. As capacidades técnicas próprias do Executivo de Finanças, combinadas com atributos comportamentais de liderança e engajamento, são fatores observados não só pelos outros executivos da empresa, mas pelo próprio CEO.
Se o CFO é considerado um parceiro de outras áreas e possui um olhar crítico, eventualmente, quando o CEO deixar a companhia, ele tende a ser visto como substituto.
No entanto, nem todo Diretor de Finanças deseja chegar ao cargo de CEO, mas esta parceria com outras áreas não é condição apenas para galgar uma nova posição no organograma, mas também para manter-se naquela que já possui. É fundamental para o Executivo ser visto como alguém que joga junto, lado a lado, e não como quem está sempre procurando algo errado e travando o cofre. Quem age dessa maneira vai ter mais dificuldade, até mesmo como CFO.